“Não tem uma viva alma mais honesta do que eu”, jactou-se Luiz Inácio Lula da Silva semanas atrás, em conversa com blogueiros chapa-branca. Era uma demonstração de que nada tinha a temer diante das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, que apuram as suspeitas de que o ex-presidente seria autor e/ou beneficiário de crimes como ocultação de patrimônio, lavagem de dinheiro e favorecimentos indevidos envolvendo empreiteiras cujos chefões estão ou já estiveram presos.
Por isso, soa extremamente estranha, para quem diz ter alma honesta, a insistência com que Lula tem procurado fugir das autoridades que lhe pedem explicações. Diante do Judiciário ou do Ministério Público, prefere o silêncio e, para isso, move manobras jurídicas que, embora legais, o isentem de comparecer a audiências para depoimento. Em 17 de fevereiro, Lula e a mulher, Marisa Letícia, deveriam depor ao MP paulista sobre o tríplex reformado pela OAS. O casal buscou e conseguiu uma liminar do Conselho Nacional do Ministério Público. A liminar foi derrubada e o depoimento foi remarcado para esta quinta-feira. Mas, dias atrás, a defesa de Lula anunciou que ele não compareceria, mandando esclarecimentos por escrito. Além disso, Lula pediu ao Supremo Tribunal Federal um habeas corpus para que não acabe forçado a depor pessoalmente.
Soa estranha, para quem diz ter alma honesta, a insistência com que Lula tem procurado fugir das autoridades que lhe pedem explicações
Enquanto foge das autoridades, Lula segue desfiando surradas bravatas diante dos seguidores petistas que ainda o aplaudem. Se continuarem a importuná-lo, não haverá alternativa se não ser a de se candidatar à Presidência em 2018, disse ele durante a festa dos 36 anos de fundação do Partido dos Trabalhadores, no último fim de semana – um evento, aliás, a que até a presidente Dilma Rousseff teve o pudor de não comparecer.
Reconheça-se que Lula se mostra um político incansável. Investiu contra a independência da Polícia Federal e não descansou até que, depois de meses de frustradas tentativas, conseguiu destituir José Eduardo Cardozo do cargo de ministro da Justiça, sob a acusação de que Cardozo nada fazia para impedir a PF de investigar Lula e de permitir que fossem tragados pela Operação Lava Jato dezenas de petistas históricos, empreiteiros “amigos” e aliados políticos.
Em resumo, já que está difícil convencer os investigadores e a opinião pública de que Lula nada tem a ver com o tríplex do Guarujá nem com o sítio de Atibaia, o melhor que ele tem a fazer é desqualificar os que dele desconfiam e mover ações que ainda estão ao seu alcance para paralisar quaisquer investigações que levem à verdade – ainda que a verdade (e isso é que é ainda mais espantoso!) possa contribuir para atestar sua alegada honestidade.
Mas a quem Lula pretende enganar com suas bravatas e subterfúgios? A mais recente pesquisa Ibope mostrou que 61% dos brasileiros não votariam em Lula de jeito nenhum; Em outra pesquisa, do Datafolha, a maioria dos entrevistados acredita que Lula foi beneficiado por empreiteiras e retribuiu os favores, tanto no caso do tríplex (58%) quando no do sítio em Atibaia (55%).
Ainda na festa do PT, Lula valeu-se de outra manifestação de valentia destinada a impressionar a plateia cativa: referiu-se a uma suposta intimação de quebra de seus sigilos fiscal, bancário e telefônico para, sob aplausos, afirmar que, “se esse for o preço que a gente tem de pagar para provar a inocência, eu faço”. Pergunta-se: não seria mais fácil simplesmente dar as explicações que lhe pedem os investigadores comparecendo às audiências sem mais chicanas?