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editorial

A indústria se ressente

 | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
(Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)

Em mais uma surpresa negativa, a produção industrial dessazonalizada caiu 0,1% em março deste ano, indicando que a recuperação da indústria ainda patina. Embora o setor tenha crescido 1,3% em relação a março de 2017, a menor taxa desde junho de 2017, e 3,1% quando comparado ao primeiro trimestre do mesmo ano, o resultado contrariou previsões. Juntamente aos números negativos do emprego divulgados recentemente, já faz cair as projeções da maioria dos analistas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3% para 2,5% este ano. Os dados não invertem a tendência de crescimento registrada desde 2016, mas acendem mais um alerta para a vitalidade da economia brasileira.

Os números da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na quinta-feira (3), mostram a terceira queda seguida (0,7%) da indústria de bens intermediários, que em larga medida fornece matéria prima às demais e responde por 60% da produção nacional. É uma queda acumulada de 3,9% desde janeiro. Já a produção de bens de consumo duráveis e de bens de capital mostra maior dinamismo na comparação com o ano passado. A primeira, que cresceu 1% em março, acumula 15,8% em relação ao mesmo mês de 2017, puxada principalmente pela alta em automóveis e eletrodomésticos, tendência que deve ao menos se manter em ano de Copa do Mundo. A produção de bens de capital, que cresceu 2,1%, acumula 8,3% na comparação com o mesmo mês do ano passado, refletindo investimentos no parque produtivo que indicam uma tendência de maior confiança no longo prazo, tendência esta reforçada pela perspectiva de manutenção dos juros e inflação baixos. O resultado como um todo só não é pior porque o câmbio depreciado beneficia os exportadores.

A letargia, que beira a irresponsabilidade política, ameaça o próximo presidente eleito

Vários fatores explicam esse cenário. A redução da taxa SELIC demora a se reverter em barateamento do crédito para consumidores. A lenta retomada do emprego, em ambiente no qual predominam vagas informais, a falta de confiança e a incerteza no cenário eleitoral tampouco operam na retomada do consumo. Esses dois últimos fatores também explicam a timidez nos investimentos, já estruturalmente baixos em relação ao PIB, desestimulados ainda pela capacidade ociosa da indústria – a produção industrial está 15,3% abaixo do nível recorde de maio de 2011 – e pela letargia nas obras de infraestrutura, especialmente na área de transportes, cujos editais estão emperrados em meio a questionamentos de órgãos de controle e mesmo de investidores. O Programa de Parcerias e Investidores (PPI) do governo federal foi lançado em setembro de 2016 prometendo contribuir para a retomada do crescimento, mas pouco mais de 40% dos projetos foram concluídos.

Não se pode deixar de notar que a incapacidade de o presidente Michel Temer e o Congresso acertarem o passo está cobrando seu preço no curto prazo. Em fevereiro, o governo jogou a toalha na tentativa de aprovar a reforma da previdência, essencial para conter os gastos e sem a qual a PEC do Teto, aprovada em 2016, se transformou em uma bomba relógio. Além disso, o governo tampouco tem conseguido emplacar outros projetos que considerava prioritários, como a lei do cadastro positivo e a simplificação tributária, partes de uma agenda de reformas microeconômicas que já parece esquecida. A letargia, que beira a irresponsabilidade política, ameaça o próximo presidente eleito, o qual terá, antes de tudo, de desarmar uma trajetória de gastos que, de acordo com o relatório mais recente do Tesouro, produziu em 2017 o orçamento mais engessado da história, com 94% das despesas primárias obrigatórias. Com uma situação fiscal tão deteriorada, não há mágica que viabilize a retomada do investimento e do crescimento.

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