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Editorial

A inflação de 2021 e as perspectivas para 2022

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Gasolina foi o item de maior impacto individual na inflação de 2021. (Foto: Unsplash)

A nova desaceleração da inflação – com o IPCA de dezembro de 2021 registrando 0,73%, contra 0,95% em novembro e 1,25% em outubro – não foi suficiente para tirar o acumulado de 2021 do campo dos dois dígitos. O indicador terminou o ano em 10,06%, o maior aumento desde 2015 e muito acima da meta de inflação do Banco Central, que era de 3,75% com tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo.

Ao analisar os dados consolidados de 2021, a essa altura já não há surpresa alguma sobre os fatores que levaram a inflação a mais que dobrar de um ano para outro (o IPCA de 2020 tinha sido de 4,52%). Há um fenômeno global de inflação – nos Estados Unidos, por exemplo, os índices acumulados são os maiores em 40 anos –, mas no Brasil ele foi ampliado por circunstâncias locais, como a crise hídrica, que encareceu a energia elétrica; e a valorização do dólar, combinada com o aumento da demanda por commodities, consequência da recuperação econômica mundial pós-pandemia. Produtos agrícolas valorizados levaram o produtor brasileiro a exportar mais, reduzindo a oferta local; o petróleo mais caro em dólar encareceu as importações e o preço dos combustíveis. A gasolina subiu 47,49% em 2021 e respondeu por 2,34 pontos porcentuais do IPCA do ano passado; a energia elétrica teve alta de 21,21%, representando 0,98 ponto porcentual do índice geral. E inúmeros produtos e serviços que dependem de combustíveis e/ou energia também repassaram esses aumentos em seus preços, ampliando o efeito dessa alta.

Quanto maior a possibilidade de vitória de candidatos adeptos da gastança governamental e críticos de medidas de controle de gastos públicos em outubro, maior será a deterioração das expectativas dos investidores

O olhar, agora, se volta para a inflação de 2022. Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo consideram haver fundamento nas previsões do último boletim Focus, do Banco Central, em que a mediana das expectativas do mercado financeiro está em 5,03%, exatamente metade do IPCA de 2021. Por mais que o início do ano costume trazer reajustes em itens como passagens de ônibus e mensalidades escolares, as perspectivas para itens como energia elétrica e combustíveis são melhores que no ano passado. Há projeções de recuo de até 5% na conta de luz, mas a concretização desta previsão depende do fim da crise hídrica, com chuvas em quantidade suficiente para encher os reservatórios das usinas hidrelétricas e dispensar a energia termelétrica, mais cara, o que possibilitaria a adoção de bandeiras tarifárias mais brandas. Quanto aos combustíveis, a avaliação é de que tanto o petróleo quanto o dólar já subiram o que tinham de subir, e 2022 será um ano de estabilidade tanto para a commodity quanto para a moeda norte-americana.

No entanto, há armadilhas à frente. A crise em cadeias globais de suprimentos ainda não terminou; há regiões brasileiras ainda com poucas chuvas, prejudicando safras importantes; e, finalmente, há o processo eleitoral. Quanto maior a possibilidade de vitória de candidatos adeptos da gastança governamental e críticos de medidas de controle de gastos públicos, maior será a deterioração das expectativas dos investidores, com reflexos em indicadores como a cotação do dólar – basta lembrar o salto da moeda norte-americana após a vitória de Lula, em 2002; a cotação só recuou quando ficou claro que o petista manteria a política econômica de Fernando Henrique Cardoso, o que durou alguns anos antes de a Nova Matriz Econômica entrar em cena e causar a recessão de 2015-16.

Mesmo que o pior não ocorra e a inflação de 2022 realmente fique na casa dos 5%, ela continuará estourando a meta estabelecida para o IPCA deste ano – que é de 3,5% com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo – e ainda será maior que as inflações anuais de 2017 a 2020. Isso deveria servir de alerta para que governo e Congresso se empenhassem na aprovação de reformas que reduzissem gastos e reforçassem a responsabilidade fiscal, fortalecendo a economia. Como essa possibilidade, infelizmente, é bastante reduzida, restará ao brasileiro contar com fatores extra-Brasília para que seu poder de compra não seja tão corroído em 2022 quanto foi em 2021.

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