Com a divulgação do IPCA de novembro, que fechou o mês em 0,28%, o acumulado dos últimos 12 meses voltou para o limite de tolerância da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, e assim deve permanecer quando o ano terminar. O acumulado de 4,68% está muito pouco abaixo dos 4,75% que são o valor máximo tolerado pelo CMN, mas será necessário um repique inflacionário muito grande neste mês para o índice estourar os limites, já que o IPCA de dezembro de 2022 foi de 0,62%. Com isso, são enormes as chances de o presidente do Banco Central não precisar escrever pela terceira vez seguida uma carta ao ministro da Fazenda explicando por que a inflação ficou acima do tolerável. Agora, todos os olhos se voltam para 2024.
A inflação de novembro foi pressionada, mais uma vez, pelo preço das passagens aéreas, que subiram 19,12%, e pelo grupo Alimentação e Bebidas, que sofreu o efeito de eventos climáticos extremos em regiões de grande produção agrícola. Mesmo assim, o IPCA de 0,28% ainda foi ligeiramente menor que o previsto por instituições do mercado financeiro. Além disso, o grupo de alimentos esteve longe de ser um dos vilões da inflação ao longo do ano. O excepcional desempenho do agronegócio – tão demonizado pelo presidente Lula – no início do ano garantiu meses seguidos de deflação sem prejudicar o comércio exterior e a balança comercial. No entanto, não existem garantias de que tenhamos uma nova supersafra em 2024, e este é apenas um dos pontos de preocupação para o próximo ano.
O Banco Central, para usar a expressão do ministro Fernando Haddad, está fazendo o seu trabalho. Quem não está fazendo o seu trabalho é o governo
O Banco Central, para usar a expressão do ministro Fernando Haddad, está fazendo o seu trabalho. Ao longo deste ano, mesmo sob fogo cerrado do presidente Lula e de vários outros líderes petistas, o BC insistiu em não submeter sua política monetária ao populismo petista, um acerto que ajudou a trazer a inflação para dentro do limite de tolerância da meta e deu ao Copom as condições para seguidas reduções na taxa Selic como a ocorrida na última reunião do ano, dias atrás, com a quarta queda seguida de meio ponto porcentual. Quem não está fazendo o seu trabalho é o governo.
Os arautos do déficit e da irresponsabilidade fiscal perderam totalmente a vergonha nos últimos dias. No encontro em que o PT traçou as estratégias para as eleições municipais, dias atrás, a defesa da gastança foi feita pela presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, e pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães, que foi explícito ao dizer que, sem abrir a torneira, o PT não irá bem em outubro de 2024. Na terça-feira, foi a vez do próprio presidente Lula, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o “Conselhão”. “Se for necessário a gente fazer um endividamento para fazer o país crescer, qual o problema?”, questionou o presidente, citando como empecilhos, quem diria, a necessidade de manter a inflação sob controle e de perseguir o superávit primário, e até mesmo a Lei de Responsabilidade Fiscal.
“O problema” é que a gastança e o endividamento são inflacionários e impedem a queda dos juros, o que por sua vez seguirá inibindo o crescimento. O problema não é simplesmente o desejo de bancar investimentos e melhorar programas sociais, mas a recusa sistemática em cortar a gordura da máquina pública, eliminar privilégios e gastos desnecessários, ineficientes e ineficazes, retirar o Estado daquilo que a iniciativa privada pode fazer melhor, desengessar o Orçamento, enfim, fechar os inúmeros ralos pelos quais o dinheiro do contribuinte é perdido. O resultado inevitável dessa insistência, mais cedo ou mais tarde, acabará refletido nos índices de inflação futura.