Depois de voltar ao campo positivo em outubro assustando o mercado, com um IPCA de 0,59%, a inflação desacelerou em novembro, segundo os dados divulgados pelo IBGE na última sexta-feira, e ficou em 0,41%. Com isso, o acumulado de 12 meses voltou a cair, para 5,90%, e a inflação de 2022 subiu para 5,13%, oficializando o estouro do limite superior de tolerância da meta deste ano, que era de 3,5%, podendo oscilar 1,5 ponto para cima ou para baixo. Apenas uma deflação em dezembro, o que seria completamente inesperado, impedirá que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tenha de escrever uma carta ao futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando as razões para o descumprimento da meta.
Como costumava ocorrer nos meses anteriores à aprovação da lei que forçou a redução no ICMS de itens essenciais, foram os combustíveis que puxaram a inflação para cima. A entressafra na produção de cana de açúcar levou a uma alta de 7,57% no etanol, com efeitos no preço da gasolina, que usa álcool anidro em sua composição e subiu 2,99%, representando 0,14 ponto porcentual do IPCA de novembro – o maior impacto de um único item sobre o índice de inflação. Outro ponto de preocupação constante, o grupo Alimentação e Bebidas, também sofreu desaceleração, mas continua subindo acima da média, com 0,53% em novembro. Enquanto produtos que tiveram altas expressivas meses atrás continuam baixando de preço, como o leite longa vida (-7,09%), outros itens bastante presentes na mesa do brasileiro estão subindo, como o arroz (1,46%), as frutas (2,91%), o tomate (15,71%) e a cebola (23,02%).
As políticas já em curso, com os novos gastos autorizados pela PEC fura-teto, e aquelas que deverão ser implantadas após 2023, a julgar pelas opiniões de Lula e Haddad, apontam para uma política econômica de viés expansionista e, consequentemente, inflacionário
Pela primeira vez em um mês e meio, a previsão para a inflação de 2022 registrada pelo Boletim Focus, do Banco Central, voltou a cair: agora, é de 5,79%, contra 5,92% no boletim divulgado na segunda-feira passada, dia 5. Já a previsão para o IPCA de 2023 não caiu, mantendo-se nos mesmos 5,08% da semana anterior. Com a confirmação de alguns temores muito fundados em relação ao futuro da economia brasileira sob a administração petista, no entanto, não será surpresa alguma se as projeções para o próximo ano começarem a subir em breve.
A não ser que os deputados comprometidos com a responsabilidade fiscal vençam uma batalha que promete ser árdua, a tramitação da PEC fura-teto na Câmara terminará mal. Ou o cheque será muito maior que o realmente necessário para Lula bancar o aumento do Bolsa Família, ou a folga orçamentária durará mais tempo que o realmente necessário para as soluções imediatas que a PEC se propunha a resolver – na pior das hipóteses, teremos as duas coisas, caso o texto aprovado seja exatamente aquele vindo do Senado. Além disso, o teto de gastos tem tudo para ser oficialmente abolido e substituído por uma nova âncora fiscal da qual não se sabe absolutamente nada. Por fim, a escolha de Haddad para comandar o Ministério da Fazenda mostra que o lado gastador deve mesmo prevalecer, frustrando aqueles economistas que ingenuamente “fizeram o L” esperando “uma condução responsável da economia”, como afirmaram Edmar Bacha, Pedro Malan, Armínio Fraga e Persio Arida, antes do segundo turno.
Neste cenário, pouco importam as promessas de “responsabilidade fiscal” feitas pelo vice eleito, Geraldo Alckmin, ou afirmações de membros da transição de que Lula tem consciência de que é o mais pobre que sofre com a inflação. Fato é que as políticas já em curso, com os novos gastos autorizados pela PEC fura-teto, e aquelas que deverão ser implantadas após 2023, a julgar pelas opiniões que Lula e Haddad já manifestaram no passado recente, apontam para uma política econômica de viés expansionista e, consequentemente, inflacionário. Nas circunstâncias atuais, é cada vez mais difícil vislumbrar um futuro marcado pela condução responsável das contas públicas.
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