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Editorial

A inflação desacelera, mas não dá trégua

Usina termelétrica em Araucária (PR): crise hídrica obriga o país a acionar parque térmico por mais tempo, o que vem encarecendo a tarifa de energia e pressionando a inflação. (Foto: Marcelo Andrade)

A inflação teve uma leve desaceleração em junho, mas continua sendo motivo de muita preocupação. Depois do 0,83% de maio, o IPCA, índice oficial de inflação do país, registrou 0,53% no mês passado, elevando o acumulado do ano para 3,77% – já acima da meta para 2021, que é de 3,75% – e o acumulado de 12 meses para 8,35%. São estes números que o Copom terá diante de si em 2 e 3 de agosto, quando for definir o tamanho do novo aumento nos juros.

Sem surpresa, o maior impacto individual no indicador veio da energia elétrica, que subiu 1,95% no mês e acumula alta de 14,20% no ano. Em junho, com o agravamento da pior crise hídrica brasileira em muitas décadas, entrou em vigor a bandeira tarifária vermelha patamar 2, a mais cara de todas, e que ainda por cima teve reajuste na sobretaxa cobrada – de R$ 6,24 para R$ 9,49 para cada 100 MWh consumidos. O aumento da energia respondeu por 0,09 ponto porcentual do IPCA de junho, mas seu efeito real é ainda maior, já que os custos adicionais com a energia mais cara inevitavelmente são repassados aos preços dos demais produtos e serviços – e oito dos nove grandes grupos de itens pesquisados tiveram aumento em junho; a única exceção foi Comunicação, com queda de 0,12%.

O Copom já adiantou uma elevação de 0,75 ponto na Selic, mas estamos diante de uma “deterioração das expectativas” que justificaria aumento de um ponto porcentual nos juros?

Como o choque inflacionário atual começou em setembro de 2020, o mais provável, no momento, é que o acumulado de 12 meses continue subindo antes de inverter a tendência e regredir, a não ser que a desaceleração se intensifique de forma surpreendente, substituindo os 0,36% e 0,24% de julho e agosto de 2020 com avanços equivalentes neste e no próximo mês. A pergunta que se coloca agora é: este cenário é o esperado pelo Copom, ou estamos diante da “deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante” mencionada no último comunicado do comitê, e que poderia justificar um aumento de um ponto na Selic, em vez do 0,75 ponto já anunciado para agosto?

Os prós e contras são amplamente conhecidos. Um aumento mais drástico segura a inflação de forma mais imediata, mas atrapalha a recuperação econômica neste momento em que o desemprego segue alto, além de encarecer a dívida pública, que já sofre com a exigência do mercado por retornos maiores devido à gestão errática das contas do governo, com risco constante de descontrole e gastança. A elevação já “garantida” pelo Copom prejudica menos (pois o prejuízo é certo, variando apenas sua intensidade) a retomada, mas pode levar o controle da inflação a demorar mais, a não ser que o Copom considere que os preços já estão perdendo fôlego e que um aumento maior na Selic seria desnecessário no momento.

Há muitos fatores que têm efeito na inflação e estão totalmente fora do controle das autoridades, como os preços internacionais do petróleo e a falta de chuvas – já a falta de preparo para enfrentar a crise hídrica, esta pode ser colocada na conta de sucessivos governos. Outros elementos, como o câmbio (um dos responsáveis pela queda na oferta interna, já que o real desvalorizado incentiva produtores de alimentos a exportar), são afetados por decisões locais, mas também dependem do que ocorre fora do país, como a política de juros norte-americanos. É no que depende exclusivamente dos brasileiros que Executivo e Legislativo precisam centrar esforços: retomar o ajuste fiscal, dar motivos ao investidor para confiar no país e controlar a trajetória da dívida pública.

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