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Infelizmente, a inflação sempre fez parte do estado normal da economia brasileira, mesmo depois de o Plano Real ter debelado a hiperinflação, em 1994. Assim, após três meses seguidos de deflação, não surpreende que o IPCA tenha voltado ao campo positivo, com alta de 0,59% em outubro, segundo dados divulgados na quinta-feira pelo IBGE. Com isso, a inflação de 2022 subiu para 4,7%; o acumulado dos últimos 12 meses, no entanto, continua a cair – agora é de 6,47% –, mas apenas porque o número do mês passado substituiu uma inflação ainda maior, o 1,25% de outubro de 2021.
O respiro provocado pelas reduções de impostos sobre itens essenciais como energia elétrica, combustíveis e serviços de telecomunicação parece ter chegado ao fim. A gasolina ainda caiu, mas em ritmo menor que nos meses anteriores; por outro lado, o etanol voltou a subir e as passagens aéreas dispararam 27,38%, tornando-se o item de maior impacto no índice de outubro – 0,16 ponto porcentual do IPCA do mês passado. Mais preocupante é o fato de o grupo Alimentação e bebidas ter tido o segundo maior aumento entre os grupos pesquisados pelo IBGE, com 0,72%, apesar de algumas boas notícias como a nova redução no preço do leite longa vida (queda de 6,32%) e do óleo de soja (-2,85%).
A irresponsabilidade fiscal, a gastança descontrolada, o inchaço do Estado são inflacionários. A esta altura, apenas a esquerda e seus economistas “desenvolvimentistas” parecem não saber disso – ou, se sabem, não se importam
Depois de uma longa sequência de queda nas previsões do mercado financeiro para o IPCA fechado de 2022, o Boletim Focus já registra a segunda semana consecutiva de alta, com 5,63% – ainda abaixo do atual acumulado de 12 meses, indicando que em novembro e dezembro os preços devem subir menos em comparação com o bimestre final de 2021. Mesmo assim, o limite superior de tolerância da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, que para 2022 é de 5%, será estourado pelo segundo ano seguido; o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, terá de redigir, no início do ano que vem, uma carta ao sucessor de Paulo Guedes explicando os motivos do descumprimento da meta, repetindo o que fizera no início deste ano.
O ano de 2022 está relativamente perdido em termos de controle da inflação – “relativamente” porque, se por um lado a inflação ficará fora da meta mais uma vez, por outro lado a desaceleração é evidente, pois o acumulado de 12 meses já chegou a estar em 12%, e economias desenvolvidas estão com inflações piores que a brasileira. Agora, a pergunta que o país faz, com a definição sobre quem governará o Brasil no próximo quadriênio, é se será possível domar a inflação em 2023. As respostas, na melhor das hipóteses, ainda são muito incertas; caso as recentes declarações de Lula sejam pistas mais importantes que a escolha de alguns economistas liberais para sua equipe de transição, então os brasileiros podem se preparar para tempos difíceis à frente.
Na quinta-feira, em Brasília, Lula atacou mecanismos de responsabilidade fiscal em um encontro com políticos aliados, colocando de lados opostos ajuste fiscal e a construção de um colchão de seguridade social. “Por que as pessoas são levadas a sofrerem para garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gasto, fazer superávit, teto de gastos? Por que essas mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gastos não discutem também a questão social desse país?”, disse o petista, amenizando com o uso de perguntas o que ele realmente queria dizer: que a responsabilidade fiscal é inútil ou até mesmo nociva ao país. A fala causou um pequeno terremoto no câmbio e na bolsa de valores, e foi repudiada por Henrique Meirelles e Armínio Fraga, que apoiaram Lula durante a campanha eleitoral (no caso de Meirelles, ainda no primeiro turno) e agora parecem querer que o país acredite que eles não sabiam no que estavam se metendo.
A irresponsabilidade fiscal, a gastança descontrolada, o inchaço do Estado são inflacionários. A esta altura, apenas a esquerda e seus economistas “desenvolvimentistas” parecem não saber disso – ou, se sabem (pois tiveram a chance de aprender na recessão de 2015-16, causada pela “nova matriz econômica” petista), simplesmente não se importam. E, com uma política econômica que gere inflação, recessão e desemprego, não haverá gasto social que dê conta – bastaram dois anos de “herança maldita” do lulopetismo para desfazer todo o processo de ascensão social ocorrido entre 2006 e 2012, que levou à criação da chamada “nova classe C”. Se Lula quer mesmo repetir a dose, que Roberto Campos Neto mantenha a caneta a postos, pois ainda terá mais cartas a escrever para explicar por que a inflação não recua.