| Foto: Marcos Santos/USP Imagens

As últimas publicações feitas pelo IBGE revelam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caminha para ficar abaixo de 4,5%, que é a meta de inflação para 2017 aprovada por resolução do Banco Central (BC). A julgar pelo IPCA de abril, a taxa oficial de inflação pode ficar ligeiramente acima de 4%. É uma vitória no combate a um dos piores males sociais, pois a inflação distorce o sistema de preços, dificulta o planejamento dos investimentos e, sobretudo, castiga os trabalhadores ao corroer o poder de compra dos salários.

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Entretanto, essa vitória em relação à inflação acontece sob condições indesejáveis em relação ao nível de emprego e de demanda por bens e serviços de consumo. O número de desempregados atingiu em abril o recorde de 14,2 milhões, equivalente a 13,7% do total de 103,7 milhões de pessoas que compõem a população economicamente ativa (aquela em condições de trabalhar). Vale esclarecer que esse total de trabalhadores sem emprego diz respeito ao chamado “desemprego aberto” e não inclui os que trabalham apenas parcialmente, em jornada inferior a 40 horas por semana, e os que desistiram de procurar emprego. Na prática, a situação do desemprego geral é mais grave que apenas o desemprego aberto.

A situação do desemprego geral é mais grave que apenas o desemprego aberto

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Segundo os dados do IBGE, o desemprego dobrou em três anos e, quando isso ocorre, três efeitos aparecem inevitavelmente. Um, como resultado do excesso de oferta de mão de obra e escassez de vagas, os salários médios caem e deixam de pressionar os custos de produção de bens e serviços nos setores primários, secundário e terciário. Sem pressão dos custos para cima, os preços finais tendem a ser contidos e isso explica, em parte, por que a inflação caiu. O segundo efeito é a piora na desigualdade de renda, pois aqueles que perdem o emprego engrossam a estatística dos recebedores de renda zero, a renda média por habitante é jogada para baixo e cresce o número de pessoas nas classes de renda baixa. O terceiro efeito, que ajuda na manutenção da inflação em taxas baixas, é a redução da pressão de demanda por bens e serviços de consumo, já que os desempregados passam a comprar muito menos ou até mesmo deixam de comprar.

No quesito “desigualdade de renda”, há um fenômeno digno de menção para a compreensão do problema: o desemprego não atinge os funcionários do setor público, justamente aqueles que têm salários médios superiores a seus pares do setor privado. Os 14,2 milhões de desempregados vieram essencialmente do setor privado, já que nenhum funcionário do governo foi demitido por causa da recessão que se abateu sobre o país. Esse panorama todo acaba, mais cedo ou mais tarde, jogando a inflação para baixo e, embora seja desejável que a inflação caia para o centro da meta, a vitória no combate à elevação de preços decorre de algumas variáveis indesejadas, como desemprego e queda de consumo.

Leia também:Dois males simultâneos (editorial de 14 de abril de 2015)

Leia também:A raiz da inflação (editorial de 25 de março de 2016)

A estabilização consistente dos preços de forma permanente em torno da meta de 4,5% depende de manter esse índice quando a economia se recuperar, o desemprego diminuir, os salários médios subirem, o consumo voltar a crescer motivado por mais emprego e mais renda e o déficit público for controlado. É somente em situação de baixo desemprego e melhorias salariais que uma inflação baixa representa vitória sólida sobre a escalada dos preços. Esse é o desafio que o Brasil tem pela frente quanto ao controle da inflação, cujas bases devem ser implantadas neste ano para que a economia comece a crescer a partir de 2018.

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