O coro que deseja marcar uma data de encerramento para a Operação Lava Jato não para de engrossar. A mais recente manifestação foi a de ninguém menos que um vice-presidente da Câmara dos Deputados: o peemedebista mineiro Fábio Ramalho, para quem a Lava Jato “já fez o seu trabalho” e “o Brasil não vai aguentar isso o resto da vida”, pois há outras pautas importantes, como as reformas e o aumento na segurança jurídica do país. Ramalho foi além e chegou a dizer que gostaria de ver o trabalho todo encerrado em seis meses.
A investigação do que é, até o momento, o maior escândalo de corrupção desvendado no país já dura três anos e meio. É verdade que, passado esse tempo todo, há uma fadiga natural, inclusive na opinião pública. Também é verdade que há uma série de trabalhos ainda não concluídos, investigações em curso e processos a julgar – aqui, é preciso estabelecer uma distinção entre a primeira instância, com a força-tarefa curitibana e o juiz Sergio Moro, e a atuação do Supremo Tribunal Federal e da Procuradoria-Geral da República; especialmente a PGR parece ter um ritmo próprio, extraordinariamente lento, com exceção do caso envolvendo o presidente Michel Temer. Mas é um equívoco enorme defender o encerramento da Lava Jato nessas bases, como se fosse suficiente apenas concluir o que está em andamento.
Quem está preocupado com o futuro do Brasil não deveria estar pensando em prazos para o fim da Lava Jato
Se a Lava Jato já dura esse tempo todo, não é porque seus responsáveis pretendem fazer dela uma instituição permanente, mas porque o esquema montado para pilhar a Petrobras e abastecer financeiramente partidos e campanhas políticas tem dimensões mastodônticas. E o tamanho da fraude, com suas inúmeras ramificações, é tal que é perfeitamente possível crer que ela ainda não foi completamente desvendada em todos os seus detalhes e com todos os seus personagens. Enquanto houver fios soltos a puxar, é preciso manter a Lava Jato, com a expertise acumulada nestes três anos e meio por uma equipe que já domina os detalhes dos intrincados mecanismos usados por políticos e empreiteiras e tem a capacidade de compreender onde quaisquer novas informações se encaixam dentro do cenário completo do esquema de desvios, propinas e doações.
O argumento da “paralisação” do país, além de muito semelhante à retórica petista que culpava a Lava Jato pelo declínio do PIB nacional ao “destruir as empreiteiras”, não se sustenta. As reformas estão avançando, ainda que lentamente: com a Lava Jato em curso, o governo aprovou a PEC do Teto, a terceirização e a reforma trabalhista. Sim, os parlamentares poderiam estar trabalhando na aprovação de mais reformas, especialmente a previdenciária, se não estivessem tão preocupados em salvar a própria pele, articulando projetos de lei que atrapalham investigações – não só da Lava Jato, mas de qualquer outra operação futura. Mas quem diz que é a Lava Jato a culpada por esse estado de coisas precisa responder: seria melhor, por acaso, uma “normalização da vida nacional” que resultasse em impunidade? Seria válido encerrar a Lava Jato sem a certeza completa de que o esquema foi completamente desvendado e de que todos os seus personagens estão respondendo por seus atos?
Leia também: Lava Jato sem excessos (editorial de 17 de setembro de 2016)
As investigações sobre o petrolão têm sido uma oportunidade ímpar para o Brasil desnudar as relações espúrias entre o setor político e empresas ansiosas por lucrar sem precisar fazer o esforço exigido por um sistema de livre concorrência. Quem está preocupado com o futuro do Brasil, e não deste ou daquele partido, grupo político ou mandatário, não deveria estar pensando em prazos para o fim da Lava Jato, mas em apoiar o esforço investigativo para que os responsáveis pela operação, quando chegar o momento certo, possam dizer que fizeram tudo o que havia para fazer, sem ter deixado nada para trás. Esse, sim, será um encerramento digno para a Lava Jato.
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