A retomada do emprego formal no Brasil entrou em uma rota mais consistente, mas ainda assim lenta para um país com milhões de cidadãos ainda sem trabalho, ou obrigados a viver na informalidade ou por conta própria, em um empreendedorismo muitas vezes forçado e improvisado. Na semana passada, o Ministério da Economia divulgou os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que considera apenas os empregos com carteira assinada: em outubro, houve saldo positivo de quase 71 mil vagas – mais que em outubro de 2018, mas menos que em setembro de 2019. Este foi o sétimo mês seguido com abertura de postos formais de trabalho, e no acumulado do ano houve a criação de cerca de 840 mil vagas com carteira assinada.
As cinco regiões brasileiras registraram saldo positivo, bem como 23 das 27 unidades da Federação, um bom sinal, demonstrando que a abertura de vagas formais não está concentrada geograficamente. A disparidade ocorre quando se considera os setores da economia: comércio e serviços tiveram o melhor desempenho, seguidos pela indústria de transformação, construção civil e extrativismo mineral; por outro lado, a agropecuária perdeu 7,2 mil postos, com administração pública e serviços industriais de utilidade pública fechando algumas centenas de postos.
A pobreza e o desemprego são os maiores dramas sociais decorrentes de uma crise econômica
Outros indicadores, como os do IBGE, mostram um quadro mais delicado. No terceiro trimestre deste ano, apenas o estado de São Paulo teve redução no desemprego em comparação com o segundo trimestre, enquanto houve aumento em Rondônia e estabilidade no resto do país. A taxa de desemprego continua em preocupantes 11,8%, com 12,5 milhões de brasileiros ainda à procura de trabalho – deste total, praticamente um quarto, ou 3,15 milhões de pessoas, estão buscando um emprego há mais de dois anos, sem sucesso.
Este tipo de situação empurra o brasileiro cada vez mais para a informalidade e para o trabalho por conta própria, segundo o IBGE. São 11,8 milhões de brasileiros trabalhando sem carteira assinada e outros 24,4 milhões por conta própria, em um movimento de empreendedorismo por necessidade, e não tanto por vocação, levado adiante muitas vezes também de maneira improvisada, sem formalização alguma – 80% desses autoempregados dizem não ter CNPJ; isso indica ou desconhecimento da legislação, ou a permanência da burocracia, apesar dos esforços do governo federal em tornar mais simples a vida do microempresário, ou simplesmente mostra que o autoemprego é um “plano B” que será abandonado assim que surgir uma oportunidade no mercado de trabalho formal.
Há muitas considerações teóricas e estatísticas que normalmente são feitas e que merecem atenção quando se trata de desemprego – o índice, por exemplo, pode se manter estável mesmo em épocas de criação de vagas, bastando para isso que haja mais pessoas saindo da situação de desalento e retomando a procura por emprego. Também se sabe que o emprego é a última variável a reagir em cenários de recuperação após uma crise, e a economia brasileira continua patinando, com as previsões de crescimento do PIB em 2019 ainda abaixo de 1%. São ponderações corretas, mas que não servem de consolo para as pessoas concretas que precisam de um trabalho para sustentar a si mesmas e suas famílias. A pobreza e o desemprego são os maiores dramas sociais decorrentes de uma crise econômica.
Juros mais baixos, medidas de desburocratização e iniciativas como o programa Verde e Amarelo, para geração de empregos formais entre jovens, são incentivos para o investimento, mas o ambiente atual permanece marcado por incerteza. Neste sentido, uma boa notícia vem do Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), medido pela Confederação Nacional da Indústria e que, em novembro, subiu para 62,5 pontos em uma escala de zero a 100, em que pontuações acima de 50 indicam otimismo. No entanto, ainda falta o gatilho para que a confiança se concretize em investimento e geração de empregos. A indústria tem capacidade ociosa, sempre ressaltada pelo Banco Central quando decide baixar a Selic, e a injeção de dinheiro por meio da liberação de saques do Fundo de Garantia pode dar algum impulso à economia neste fim de ano, mas é preciso continuar trabalhando nas reformas que deem saúde fiscal ao Brasil para que ocorra uma retomada firme do investimento.
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