Diz um provérbio que os homens inteligentes aprendem com os erros dos outros, os normais aprendem com os próprios erros e os estúpidos não aprendem nunca. O mundo está cheio de exemplos sobre o que não se deve fazer, propiciando oportunidade para que os governos aprendam com erros alheios e evitem repeti-los. Dois exemplos atuais são a Grécia e a Irlanda, países que trilharam, durante muitos anos, um caminho cheio de equívocos em matéria de gestão da economia, cujas consequências dramáticas parecem longe de qualquer solução.

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Esses países, cujo caso mais barulhento atual é a Grécia, apresentam quatro problemas graves: déficit público anual persistente, excessivo endividamento governamental, frouxidão no combate à inflação e falta de disposição política para equilibrar o orçamento fiscal. Esses problemas estão interligados uns aos outros e eles se alimentaram durante anos, levando o país às consequências inevitáveis da desordem na gestão macroeconômica. As mais graves consequências são sempre as mesmas: incapacidade do governo de pagar suas dívidas, calote nos credores, inflação, recessão, desemprego e conflitos sociais. Num quadro assim, o povo empobrece, a violência social se manifesta, o quadro político apodrece e os governantes caem.

O drama embutido na deterioração do quadro macroeconômico é que a tragédia começa devagar, lenta e quase imperceptível, como uma espécie de doença indolor, e se propaga pelo organismo social, até que, quando menos se espera, a crise estoura e mostra sua face mais dolorosa. É o que está ocorrendo com a Grécia. O país levou décadas para construir a doença econômica que destruiu as bases da estabilidade e do progresso e, agora, se vê mergulhado em um conjunto de problemas de difícil solução. A situação é tão grave que muitos especialistas afirmam que a Grécia poderá retornar à condição de país pobre.

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A Europa está tentando ajudar a Grécia, já que não interessa a ninguém que o país sucumba e se afunde em extensa depressão econômica. Um acordo vem sendo negociado entre a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo qual o país receberá socorro de até 120 bilhões de euros. Os obstáculos para a conclusão da ajuda internacional são vários, como a falta de disposição dos políticos para enfrentar as reformas e a dificuldade na obtenção de apoio popular para mais sacrifícios da população, já empobrecida por desemprego e queda de renda. Entretanto, o mais difícil está em conseguir aprovação da sociedade grega para aumentar impostos e reduzir gastos públicos, medidas exigidas no pacote de socorro.

Quanto ao Brasil, é importante saber se haverá consequências econômicas negativas para a economia interna. Fracassos econômicos regionais sempre afetam o mundo todo, ainda que em graus diferentes, conforme as particularidades de cada nação. Com a crise europeia, os investidores internacionais estão colocando o pé no freio das aplicações em ativos externos, tornando-se conservadores e os dólares do mundo passam a buscar os ativos mais seguros, o que pode diminuir os dólares à disposição dos países emergentes. Nesse sentido, o Brasil não deverá sofrer muito, pois as reservas internacionais do país passam dos 350 bilhões de dólares, volume bastante alto e suficiente para suportar reduções de seu total sem maiores problemas.

O efeito mais sério diz respeito ao comércio exterior brasileiro. Em crises da magnitude da crise europeia, é normal haver diminuição da demanda mundial, fato que, se ocorrer, poderá provocar redução das exportações do Brasil. Isso não é bom, pois implicaria diminuição da produção e do emprego nos setores exportadores, no momento em que os produtores estão amargando baixa rentabilidade em seus balanços por causa da defasagem na taxa de câmbio. A redução na demanda mundial é ruim também porque pode provocar alguma queda nos preços internacionais dos produtos exportados pelo Brasil, o que agravaria a situação das empresas que vendem para o exterior.

A crise europeia, em especial a crise da Grécia, contém várias políticas erradas, feitas por governos imprudentes, que trazem lições sobre o que deve ser evitado. Se o governo brasileiro for inteligente o suficiente para aprender com os erros dos outros, o país poderá agir preventivamente para evitar que esse tipo de crise aconteça por aqui. Durante anos, políticos e economistas de esquerda afirmaram que alguma inflação é tolerável e que o déficit público não é um grande problema. Essa é a primeira crença que deve ser sepultada definitivamente. Inflação, déficit público e excessivo endividamento do governo... isso é tudo que a nação deve evitar, caso não queira correr o risco de ser uma Grécia no futuro.