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Editorial

A luta para voltar a crescer

Lojas fechadas em Curitiba. (Foto: Lineu Filho/Tribuna do Paraná)

A pandemia do coronavírus gerou uma grande crise, caracterizada por isolamento social, tensões, medo e incertezas, e uma brutal crise econômica, que não se resume apenas à paradeira na atividade produtiva, mas trará consequências negativas no médio e a longo prazo. A crise pegou os quatro lados mais relevantes da economia: a produção, o consumo, o investimento e a renda pessoal. A freada na produção nas primeiras semanas do isolamento social levou as autoridades a manifestarem preocupação com o suprimento de bens e serviços – que obviamente iria sofrer durante o isolamento – e várias medidas foram anunciadas pelo governo federal, governos estaduais e vários municípios. Como sempre ocorre nessas situações, muitas medidas foram boas, outras nem tanto e algumas ruins.

O presidente do Banco Central informou, em palestra on-line no sábado, dia 4 de abril, que houve redução de 80% na demanda de bens de consumo duráveis e serviços desde o início do período de isolamento, e mostrou uma série de estatísticas e medidas sob a competência da autoridade monetária. Ainda não está devidamente dimensionada, mas a redução da renda pessoal – especialmente dos profissionais autônomos, cujo serviço é prestado no contato direto com o consumidor, e dos empregados de empresas que terão dificuldade de pagar salários – atingirá pessoas e famílias que, ao perderem parcialmente ou totalmente sua renda, estarão em situação difícil. Os efeitos de médio prazo e de longo prazo sobre a economia e a estrutura social, principalmente sobre o sistema de produção, renda, investimento e consumo, exigirão alguns anos para concluir um rearranjo.

A crise pegou os quatro lados mais relevantes da economia: a produção, o consumo, o investimento e a renda pessoal

A respeito, vale uma comparação com o corpo humano. Uma doença pode acometer um corpo saudável ou um corpo debilitado. Uma crise econômica pode acometer um país desenvolvido, de renda alta e bem estruturado, como pode acometer um país pobre, com alto desemprego e baixa renda por habitante. O diagnóstico de um evento social negativo deve considerar a saúde econômica do país afetado e é importante para a avaliação dos efeitos e o encaminhamento das soluções. Os desafios brasileiros serão muitos e serão complexos. Os planos e as medidas para a recuperação irão encontrar um país com baixo crescimento, alto desemprego, vários problemas sociais e uma infraestrutura precisando ser recomposta. Há alguns meses, saíram estatísticas oficiais mostrando que o Brasil segue com baixo desempenho econômico e a pobreza atinge mais de 50 milhões de pessoas.

O Brasil abusou do direito de desperdiçar tempo, sobretudo nestas duas primeiras décadas do século 21, período em que o desempenho econômico foi fraco, o PIB cresceu pouco e a pobreza continuou, tudo agravado pela crise política e a crise moral, como o impeachment de um presidente, a corrupção e as redes de desvio de dinheiro público. O país já tinha perdido o bonde do progresso nas décadas anteriores ao início deste século, e a ideia do “Brasil potência 2000” não se realizou, pois o país adentrou o século 21 como nação subdesenvolvida de baixo crescimento. Agora, quando ensaiava uma recuperação econômica, o Brasil se vê atacado por um vírus que impôs e está impondo enormes sacrifícios em todos países afetados, desenvolvidos ou não.

Os estragos na economia ocorrem num momento em que o quadro estrutural anterior já tinha seus problemas e carências antes do surgimento dessa pandemia. Não há saída fácil. O Ministro da Economia, Paulo Guedes, vem liderando um conjunto de medidas ousadas na tentativa de minorar as consequências econômicas decorrentes da crise sanitária, de certa forma dando margem para críticas sobre o que seria um viés intervencionista, ele que faz questão de divulgar suas crenças liberais. O ministro tem respondido que, numa situação de catástrofe sanitária, não há como o governo lavar as mãos e nada fazer. No campo monetário, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, apresentou a análise do órgão sobre o quadro financeiro geral e o conjunto de medidas já tomadas e outras a tomar conforme o rumo da pandemia. O BC tem a obrigação de observar o mundo, ver como estão agindo os demais países, analisar a realidade brasileira e promover medidas sem perder o rumo dos dois objetivos principais do órgão: o crescimento econômico e o controle da inflação.

O fato é que esta é uma crise forte sobre uma economia com fragilidades vindas de há muitos anos, e o trabalho que sociedade e governo terão pela frente será enorme e longo. A rapidez da recuperação dependerá de eficiência, espírito cívico, solidariedade, profissionalismo e muito equilíbrio das autoridades, dos empresários, dos trabalhadores e da família brasileira que, diga-se de passagem, está demonstrando o quanto pode ser responsável perante as dificuldades. Quem sabe o país saia dessa crise mais forte e tendo aprendido lições sobre vida, trabalho, economia e solidariedade social que muito ajudarão na tarefa de crescer e melhorar.

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