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Fecha-se o primeiro ano do governo da presidente Dilma Rousseff e, felizmente, com um balanço positivo sob pelo menos dois aspectos. O principal deles – aquele que mais lhe valeu os altos índices de aprovação popular que as pesquisas apontam – foi sem dúvida a operação de faxina que promoveu entre seus ministros. Em tão pouco tempo de mandato, seis deles, o que corresponde a quase 20% do gabinete, foram afastados por terem se envolvido em duvidosos comportamentos pessoais e em estripulias com dinheiro público que não conseguiram explicar a contento. A história política recente não registra nada semelhante; a regra estabelecida, principalmente no governo do antecessor, era, tanto quanto possível, dar proteção e garantir aos auxiliares mais próximos a impunidade geral e irrestrita. Dilma quebrou esta rotina, ainda que as medidas saneadoras só tenham sido tomadas após os descalabros cometidos pelos seus assessores diretos terem sido mostrados pela imprensa do país.

Acrescente-se a essa obra outro feito que não deve ser esquecido: apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) de 2011 ter ficado próximo do zero, ressalve-se que a economia brasileira foi mantida longe da crise mundial que se arrasta desde 2008 e que se agravou este ano com a quebradeira dos países da zona do euro. A sensatez na condução da política econômica e a concessão de incentivos nas doses adequadas mantiveram a credibilidade do real (ainda que a inflação tenha crescido pouco acima da meta) e, sobretudo, a dinâmica do mercado interno. Graças à soma desses fatores, bons efeitos sociais foram alcançados e que podem ser mensurados pelo crescimento da nova classe média e por índices inéditos de criação de empregos.

Esses dois aspectos positivos da atuação do governo não são suficientes, porém, para autorizar uma visão otimista quanto ao futuro próximo. Tarefas importantes que Dilma Rousseff deixou de cumprir no seu primeiro ano não terão em 2012 o avanço que as instituições brasileiras há tanto tempo reclamam. Será inimaginável, por exemplo, que num ano a ser inteiramente contaminado pelas campanhas municipais – as quais inevitavelmente se refletirão nas eleições gerais de 2014 – seja possível levar à conclusão a mais importante de todas as reformas, a reforma política. Nem o governo nem o Congresso estarão dispostos ao debate de temas que lhes são tão sensíveis, como a proibição das coligações, o financiamento público das campanhas, o voto distrital, a coincidência dos mandatos... Portanto, certamente não assistiremos em 2012 à melhoria dos processos eleitorais e do sistema representativo.

E, sem as mudanças nas regras do jogo político, estará comprometido o avanço em bons termos das demais reformas reclamadas pela sociedade, discutidas há décadas e nunca implementadas, apesar de todas as evidências de que, sem elas, o país continuará encontrando grandes dificuldades para transpor a linha que o separa do desenvolvimento em seu melhor sentido. Inimaginável, por exemplo, que o país cresça na medida de seu potencial sem as reformas tributária, trabalhista e previdenciária.

O avanço que os fatos recentes nos autorizam esperar é o da ética no setor público. Sabemos o quão difícil é a tarefa, mas que tem de ser levada à frente, gostem ou não gostem as conhecidas raposas da política brasileira, que fazem uso do cargo e da proximidade do poder trampolim para proveito próprio. Que o exemplo do afastamento de seis ministros sob suspeita de envolvimento em negócios mal explicados sirva de alerta e que Dilma mantenha a postura em 2012, não cedendo à chantagem do fisiologismo alimentado pela corrupção. Dessa forma será possível a ela chegar ao final de seu governo com um saldo de realizações e, quem sabe, com a marca de ter conseguido mudar as conhecidas e viciadas estruturas da política nacional.

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