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Os US$ 37,5 bilhões de saldo positivo na balança comercial fizeram o primeiro semestre de 2021 ser o melhor da história.| Foto: Gelson Bampi/Sistema Fiep

Os eventos econômicos internacionais e as crises já vividas pelo mundo – a exemplo de guerras, revoluções, catástrofes naturais e movimentos políticos –, sobretudo nos últimos três séculos de civilização, oferecem um arsenal de informações e acontecimentos, cujos registros e estudos permitem à humanidade compreender causas e consequências econômicas, políticas e sociais. Quanto mais os anos passam, mais os acontecimentos ajudam na compreensão e evolução das melhores práticas para o enfrentamento dos eventos prejudiciais à população. Porém, algo tem sido notado pelos analistas e estudiosos sociais: a cada grave situação que o mundo vive, quando a normalidade retorna, as nações reagem de maneiras diferentes e aproveitam diferentemente as novas circunstâncias, especialmente as favoráveis, em função de sua realidade interna e capacidade nacional de tirar o melhor proveito das marés boas.

O Brasil tem histórico de perder oportunidades favoráveis para avançar, crescer e melhorar o padrão de vida de sua população. Com diferenças em alguns aspectos, conforme o viés do analista, claramente o Brasil não aproveitou o quanto poderia a grande onda favorável dos anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Foi um tempo de oportunidade para abrir a economia, atrair investimentos estrangeiros (principalmente na infraestrutura), acelerar o desenvolvimento industrial, incorporar as tecnologias modernas e reduzir a vulnerabilidade energética, especialmente a dependência do petróleo importado. Naquela época, lamentavelmente as oportunidades foram desperdiçadas, porque predominava a corrente de pensamento que acreditava na economia fechada e hostil ao investimento estrangeiro.

O Brasil tem histórico de perder oportunidades favoráveis para avançar, crescer e melhorar o padrão de vida de sua população

Mais adiante, na década de 1980 e parte da década de 1990, o país viria a desperdiçar outro momento favorável, quando poderia ter ingressado numa fase de crescimento econômico e desenvolvimento social, mas não o fez. Naquele período, a instabilidade política, a transição meio atabalhoada para a redemocratização, a nova Constituição Federal, a hiperinflação e a economia fechada foram alguns dos fatores que impediram o Brasil de aproveitar anos favoráveis ao crescimento econômico e elevação significativa da renda por habitante. Nos anos iniciais da década de 1980, criou-se um tímido ambiente otimista que acenava com a possibilidade de o país fazer a transição para o terceiro milênio bem melhor em termos de produto por habitante e com melhores indicadores sociais. Havia mesmo a ideia de um “Brasil 2000”, que estaria entre as nações desenvolvidas.

O país teve algumas evoluções significativas, mas muito longe de conduzir a população brasileira aos padrões de vida das nações desenvolvidas. Pelo contrário, ao ingressar no primeiro ano do terceiro milênio, a pobreza, as desigualdades, as carências sociais e uma burocracia estatal inchada e cheia de privilégios eram as marcas do país, e que continuam até hoje. Embora nos anos 1950 e seguintes os analistas internacionais vissem o Brasil com amplas condições de chegar ao novo milênio tendo ingressado no clube dos países desenvolvidos e superado o alto grau de miséria e pobreza, não foi isso que ocorreu, revelando a capacidade nacional de perder oportunidades e não embarcar no bonde da história.

Apesar da pandemia mundial, que já dura mais de um ano e meio e atingiu o mundo todo, atualmente há um conjunto de sinais favoráveis ao Brasil, restando saber o que o país fará com a boa maré, mesmo diante dos graves problemas que seguem desafiando a nação. Alguns dos eventos favoráveis são o expressivo aumento dos preços internacionais de commodities, a melhoria nas contas da balança comercial, o retorno do investidor estrangeiro ao mercado brasileiro, o baixo preço em dólar das ações das empresas listadas na bolsa de valores e a expectativa de forte recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) – apesar do recente número do segundo trimestre.

Não é uma maré maravilhosa, sobretudo porque ocorre na sequência de uma pandemia dramática, que gerou recessão, desemprego, redução da renda pessoal, empobrecimento e mortes. Mas é uma maré boa e positiva que, se bem aproveitada, pode ajudar o Brasil não apenas na recuperação do estrago feito pela pandemia, mas na promoção de crescimento substancial nos anos seguintes. A dúvida, porém, é a de sempre: saber se o governo e os demais poderes constituídos terão a competência e a eficiência necessárias para liderar o Brasil rumo ao progresso, ou se novamente desperdiçaremos mais uma oportunidade favorável ao país.

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