O ciclo de estímulos econômicos adotados pelo Banco Central Europeu e pelo Fed, o banco central norte-americano, se refletiu na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que fez nova redução de meio ponto porcentual na taxa Selic. Agora, os juros básicos estão em 5,5% ao ano, o patamar mais baixo desde a adoção do tripé macroeconômico, em 1999, quando a taxa de juros se tornou ferramenta para se atingir as metas de inflação estipuladas pelo próprio BC.
No front externo, o comunicado divulgado pelo Copom logo após o encerramento de sua reunião, na quarta-feira passada, cita o que chama de “ambiente relativamente favorável para economias emergentes”: as principais potências globais estão com a inflação sob controle, quando não abaixo das suas próprias metas, e enfrentam um cenário de desaceleração, por vezes beirando a estagnação ou até mesmo a recessão. No entanto, há dois perigos à vista no cenário externo. Um deles, mencionado pelo Copom, é o aprofundamento dessa desaceleração; o outro, que não aparece no texto, é a guerra comercial entre Estados Unidos e China, que continua preocupando, apesar de alguns gestos de boa vontade vindos de ambos os lados e das reuniões marcadas para o mês que vem, em Washington.
Autoridades monetárias, Executivo e Legislativo têm colaborado para que a atividade econômica saia da estagnação no Brasil, mas tem sido difícil fazer o motor da economia pegar
Já os fatores internos que permitem a queda dos juros são os mesmos há um bom tempo: a inflação continua sob controle – embora haja razões nada boas para isso, já que o lado da demanda continua reprimido, dada a persistência do desemprego, que empobrece as famílias e prejudica o consumo. Isso, por sua vez, explica a grande capacidade ociosa verificada hoje no parque fabril nacional e permite concluir que, mesmo no caso de um reaquecimento da economia e da demanda, a inflação continuaria dentro da meta. Além disso, as reformas finalmente estão caminhando: a da Previdência entrou em sua reta final, com a votação em primeiro turno no plenário do Senado marcada para o dia 24; quanto à tributária, já há alas do bolsonarismo defendendo que o Planalto desista de enviar proposta própria, por ter perdido o timing, e endosse um dos dois textos em tramitação no Congresso.
O comunicado não se compromete com novas reduções de juros, mas afirma que a Selic pode cair ainda mais se não houver deterioração nem interna, nem externa. “Os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, diz o Copom. Em outras palavras: se não houver nenhum revés na votação da reforma da Previdência no Senado, se a reforma tributária também avançar, se as grandes potências econômicas não entrarem em recessão e se houver trégua na guerra comercial, o caminho está aberto para novas reduções – o Copom ainda tem duas reuniões a realizar neste ano.
Autoridades monetárias, Executivo e Legislativo têm colaborado para que a atividade econômica saia da estagnação no Brasil. Os juros estão mais baixos; o governo propôs e o Congresso está aprovando a Nova Previdência; os parlamentares trabalham na simplificação tributária; Jair Bolsonaro e Paulo Guedes estão reduzindo a burocracia e zerando taxas de importação de vários bens, especialmente máquinas e equipamentos; a liberação do FGTS deve colocar mais dinheiro circulando, permitindo aos brasileiros aliviar o endividamento ou incrementar o consumo. A grande dificuldade tem sido fazer o motor da economia pegar, mas, quando isso finalmente ocorrer, o cenário criado por todas essas medidas pode colaborar para que a recuperação seja mais consistente.
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