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Editorial

A onda protecionista

 | Hugo Harada/Gazeta do Povo
(Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo)

O Diretor Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo, vem fazendo pregação contra a onda protecionista em várias países, em particular depois das promessas feitas pelos dois postulantes à presidência dos Estados Unidos (EUA). Tanto Hilary Clinton quanto Donald Trump passaram a campanha prometendo atacar os acordos de livre comércio e aumentar as tarifas de importações de produtos. Como os EUA são o maior mercado do mundo, a possibilidade de o governo norte-americano entrar em uma fase de protecionismo e imposição de barreiras às importações é má notícia para o mundo, particularmente para o Brasil, que é um grande fornecedor para aquele país.

Mas não é só nos EUA que a onda protecionista vem ganhando força. Outras nações europeias e asiáticas também estão acenando com endurecimento das barreiras contra as importações e aumento das exigências para a entrada de imigrantes. Essa onda tem a ver com questões econômicas e políticas. No campo da economia, o argumento protecionista é sempre o mesmo: os produtos importados entram no país a um preço menor e roubam empregos da mão de obra interna. O discurso soa agradável aos ouvidos da população e é bom para conquistar de votos. Mas não é exatamente assim que as coisas se passam.

A solução proposta pela OMC é que as nações se abram para o mundo

Roberto Azevêdo cita estudos feitos pela OMC e afirma que “tentar resolver problemas de desemprego e incertezas com protecionismo seria uma catástrofe, porque não vai resolver nada e na verdade agrava as dificuldades”. Ele diz que muitos enxergam apenas parte da questão e, embora haja grande quantidade de pessoas perdendo o emprego e tendo dificuldades em se recolocar no mercado de trabalho, a solução desse problema não está nas políticas anticomércio. Segundo o diretor-geral da OMC, somente 20% dos empregos perdidos têm ligação com o comércio e as importações de produtos mais baratos.

O alerta de Azevêdo vale para os países emergentes, nos quais o menor nível de conhecimento tecnológico deixa os produtos importados mais baratos, fazendo parecer que a melhor saída é impor barreiras às importações. Em geral, os governantes da América Latina adotaram o mantra do protecionismo e do nacionalismo como sendo a solução para o desemprego em seus países e, durante algum tempo, a população acreditou nesse discurso. Com a repetição de maus governos e a fase atual de derrotas da esquerda, o pêndulo está indo para o outro lado e as práticas protecionistas deveriam perder prestígio.

A solução proposta pela OMC é que as nações se abram para o mundo, apressem a incorporação das novas tecnologias, arrumem suas economias desorganizadas e busquem elevar a produtividade. Os ganhos seriam imensos em termos de melhoria do padrão de vida interno, pois, além de fazer os produtos nacionais serem competitivos (o que reduziria as importações pela via da eficiência, não das barreiras protecionistas), essa solução transformaria o país em grande exportador e os empregos viriam não do fechamento de suas economias atrasadas, mas da melhoria da produção e da produtividade e do novo patamar tecnológico.

Além dos aspectos econômicos, há elementos políticos atuando para disseminar a ideia de que maiores barreiras à imigração ajudariam a reduzir a ocupação de postos de trabalho por imigrantes no lugar dos trabalhadores nacionais. Como política global, há equívoco em achar que o nacionalismo e o protecionismo possam ser a solução para o problema do atraso e do desemprego. A solução está no aumento do conhecimento tecnológico nacional, na elevação da produtividade do trabalho e no aumento da inserção internacional.

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