A ação militar israelense na Faixa de Gaza, que começou com ataques aéreos e, no último dia 17, passou para a fase da invasão terrestre, está atraindo a condenação internacional. No dia 23, a Organização das Nações Unidas aprovou, em seu Conselho de Direitos Humanos, uma resolução que condena Israel e inicia uma investigação para avaliar se as forças israelenses cometeram crimes de guerra em Gaza, onde os mortos palestinos já são mais de mil, com maioria esmagadora de civis, incluindo muitas mulheres e crianças.

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A Faixa de Gaza foi ocupada por Israel em 1967, após a Guerra dos Seis Dias, e em 2005 o primeiro-ministro, Ariel Sharon, promoveu a retirada unilateral das tropas israelenses. No ano seguinte, o grupo terrorista Hamas venceu as eleições legislativas palestinas, mas em 2007, após um conflito com a Fatah, de Mahmoud Abbas, o Hamas passou a governar apenas a Faixa de Gaza, ficando a Cisjordânia sob o comando da Fatah. Desde então, tanto Israel quanto o Egito impuseram um bloqueio a Gaza, permitindo a entrada apenas de certos tipos de bens.

O bloqueio é apenas um dos pretextos do Hamas para ondas de lançamentos de foguetes contra cidades em Israel. Só em julho os lançamentos ocorrem em uma média de cem por dia. Se os mortos israelenses se podem contar nos dedos das mãos, isso se deve à pouca precisão dos foguetes palestinos (que, no entanto, vêm aumentando seu alcance) e ao eficiente sistema de defesa construído por Israel. A ação militar (que deve ser longa, prometeu o governo israelense) é uma tentativa de coibir os lançamentos de foguetes e a construção de túneis ligando Gaza a Israel, mas envolve fatores nada simples.

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O Hamas lança seus foguetes de áreas densamente povoadas, e a própria ONU já se manifestou a respeito de armamentos encontrados em escolas mantidas pelas Nações Unidas. Israel vem divulgando fotos segundo as quais mesquitas, hospitais e até parques infantis estariam sendo usados como bases de lançamento. Israel tem o direito de se defender, e atacar os locais usados para estocar e lançar foguetes parece a estratégia óbvia. No entanto, as inúmeras mortes de civis palestinos durante os ataques são um sinal inequívoco de que há algo profundamente errado na maneira como Israel vem conduzindo suas operações – o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, ironizou privadamente a "precisão nada cirúrgica" das ações israelenses em um comentário que acabou gravado e divulgado.

Está mais que claro que a fórmula de dois Estados, o israelense e o palestino, é uma condição fundamental para se chegar à paz na região. Essa solução esteve próxima em 2000, quando o então primeiro-ministro israelense, Ehud Barak, fez uma série sem precedentes de ofertas a Yasser Arafat, mas o líder palestino as recusou por não contemplarem o pacote completo de reivindicações palestinas, que incluíam a soberania sobre Jerusalém Oriental. Desde então, a esperança na existência de dois Estados arrefeceu, com os terroristas do Hamas governando a Faixa de Gaza e os "falcões" prevalecendo sobre as "pombas" em Israel, além da manutenção da política de construção de assentamentos judaicos na Cisjordânia. A atual coalizão de Benjamin Netanyahu (que construiu sua carreira como um linha-dura) é um balaio de gatos que inclui ao mesmo tempo secularistas, ferrenhos defensores do processo de paz e ultranacionalistas. Por sua vez, os israelenses estão lidando com um grupo terrorista que nem sequer reconhece o Estado de Israel, chamando-o, em vez disso, de "invasão sionista", e pregando sua destruição. Todos esses fatores criam uma triste falta de disposição para a negociação de ambos os lados, apesar do sofrimento que isso causa às duas populações.

A solução definitiva para Gaza, no entanto, vai além da simples criação de um Estado palestino. A Primeira Guerra Mundial, cujo início completou 100 anos na segunda-feira, ensinou que um país humilhado e destruído é campo fértil para extremismos que culminarão em novos conflitos. Gaza é um lugar sem as mínimas condições de infraestrutura e, hoje, não surpreende que muitos palestinos, com pouco ou nada a perder, endossem os métodos do Hamas. Se, em vez disso, a comunidade internacional proporcionasse a essa região algo equivalente ao que foi para a Europa o Plano Marshall, possibilitando aos palestinos levar suas vidas com dignidade e prosperar economicamente, a própria população tenderia a preferir a estabilidade ao atual estado de conflito permanente.

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