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Uma doença insidiosa progride e se alastra no seio da sociedade brasileira. Chama-se preconceito e se manifesta, na surdina ou declaradamente, na forma de incentivo a uma odiosa discriminação entre classes sociais ou raças, movido por visões ideológicas radicais disfarçadas com o invólucro enganoso do "politicamente correto". Esta realidade tomou contornos nos últimos dias, a partir de um artigo do apresentador da TV Globo Luciano Huck na "Folha de S. Paulo" e por uma entrevista que concedeu à revista "Veja". A repercussão que sobreveio às suas declarações assumiu o tom da luta de classes.

Em seu artigo, Huck relatou o episódio de que fora vítima dias antes em São Paulo: ao sair de um restaurante com um amigo, seu carro foi interceptado por dois motoqueiros que, de revólver em punho, exigiram que lhes entregassem os relógios. Fez considerações plausíveis sobre a insegurança, defendeu mais rigor policial para punir os malfeitores que infestam a cidade e pregou a necessidade de investimentos em educação para prevenir a criminalidade.

Foi o que bastou, porém, para que fosse atacado por uma saraivada de críticas, quase todas insistindo no ponto de que, sendo Huck um abastado membro da elite econômica, seria ele insensível à realidade das camadas pobres da população obrigadas a lançar mão de meios criminosos para garantir a própria sobrevivência e à das suas famílias. O corolário absurdo desse raciocínio ficou subjacente num artigo assinado pelo rapper Reginaldo Ferreira da Silva, o Férrez: os pobres têm o direito de delinqüir e não serem punidos e aos ricos se deve tirar o direito até de reclamar.

Tal pensamento discriminatório faz uma nefasta apologia do crime e está, infelizmente, disseminado e entranhado em muitas consciências – a ponto de se tornar vergonhoso hoje, no Brasil, defender teses e posições que o contrariem, por mais sensatas e equilibradas que sejam. Exige coragem, pois não é "politicamente correto" afirmar que os ricos sequer devam pretender a preservação da própria vida ou do seu patrimônio quando ameaçados por representantes da periferia social.

Esta mentalidade, lamentavelmente estimulada pelas posturas políticas do poder vigente, cioso dos frutos eleitorais que este populismo pode lhe proporcionar, faz o país ingressar num terreno perigoso – o da luta de classes – que não combina com o princípio da tolerância, uma das mais relevantes virtudes humanas.

Melhor atitude seria o esforço coletivo, sobretudo dos governantes, para promover a paz mediante redobrado trabalho para reduzir as desigualdades, combatendo as injustiças e a corrupção desenfreada, melhorando os serviços públicos e investindo na criação de empregos. Como diz acertadamente Huck – com o empirismo e a simplicidade de quem tem a oferecer apenas a sensatez e não a formação intelectual – investindo prioritariamente na educação. Pois que educar, e educar com qualidade, é a mais eficaz maneira de construir uma sociedade mais justa, em que os cidadãos não tenham de temer uns aos outros.

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