A avaliação do governo Lula sofreu leve queda nos últimos meses, segundo a pesquisa de opinião Ibope-CNI divulgada recentemente. A baixa é resultado, principalmente, da associação do Palácio do Planalto com a absolvição de Renan Calheiros e da movimentação de preços, com o risco de retorno da inflação. Mas os fatores assimilados como positivos pela população sustentam a boa taxa de aceitação do governo. Entre esses fatores destaca-se a melhoria de renda nos segmentos mais baixos da estrutura social através do programa Bolsa-Família.
Assim, apesar da leve oscilação para baixo apontada no estudo de opinião levado a efeito pelo Ibope por encomenda da Confederação Nacional da Indústria, a avaliação do governo continua alta com a aprovação na casa dos 63%, apenas dois pontos porcentuais abaixo do índice anterior, levantado em junho. O resultado do levantamento do Ibope reflete apuração similar, feita pouco antes pelo instituto Ipsos, e tende a ser repetido em outro estudo com metodologia idêntica, a CNT/Sensus.
Nos levantamentos fica claro que o fator mais positivo associado ao governo Lula é o combate à pobreza. De fato, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a taxa dos que vivem abaixo da linha da pobreza recuou para 19,31%, depois de ter chegado ao pico de 28,17% no início da era Lula, em 2003.
O que tem arranhado a aceitação do governo é o desdobramento de questões éticas. Dois episódios recentes contribuiram para a má imagem do Palácio do Planalto: o primeiro, o indiciamento dos 40 mensaleiros pelo Supremo Tribunal Federal, expõe o governo diretamente, pois entre os réus estão figuras que participaram do primeiro escalão do governo. No segundo episódio, o caso Renan Calheiros, boa parte da população também ficou insatisfeita com a pressão do governo para que o senador de Alagoas, acusado de desrespeitar o decoro parlamentar, não perdesse o mandato.
Em menor escala, o pessimismo da população se manifesta também com o desemprego, grave entre jovens após o desempenho pífio de programas como o "Primeiro Emprego". O enfoque sobre a carga tributária, com ênfase na CPMF, também indica a dissociação entre os interesses do governo e da sociedade produtiva, com 54% dos pesquisados apoiando a extinção do tributo.
Deixando de lado os índices de popularidade, Lula deveria entender as queixas à continuidade da CPMF como um clamor da sociedade pela redução do peso dos tributos, fator que impede a expansão da economia e, conseqüentemente, a ampliação dos postos de trabalho. A redução da carga deveria passar por uma ampla reforma tributária e pela diminuição de gastos do próprio governo.
Na ponta oposta, a que aponta o Bolsa-Família como a grande marca de seu governo, também cabe espaço para reflexão. É positiva a preocupação do governo com a população carente, mas a manutenção de programas assistencialistas, que não promovem a inclusão dos cidadãos pobres na cadeia produtiva, aponta para o caminho sem volta da dependência crescente do Estado.
Com mais da metade do segundo mandato pela frente, seria aconselhável que Lula não olhasse apenas para os números finais das pequisas que atestam sua popularidade, resultado obtido, em grande medida, graças a seu carisma pessoal. Os levantamentos trazem também a indicação de ajustes aguardados pelos setores produtivos, que ainda esperam encontrar motivos para recuperar a confiança no governo.
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