Iniciativas como a campanha "Não Aceito Corrupção", patrocinada por procuradores e promotores, precisam ser enaltecidas e apoiadas. Devem, porém, ser encaradas como ponto de partida para outras ações nas quais os cidadãos não podem se omitir de participar
Historicamente o país sofre de um mal crônico que corrói as instituições públicas, subvertendo a ética e comprometendo o desenvolvimento pelos danos que produz nas finanças do Estado brasileiro. Referimo-nos à praga da corrupção, que age tal e qual o cupim que cresce e se multiplica de forma subreptícia, destruindo, a partir do interior, a madeira na qual se abriga. O resultado é que sua presença, muitas vezes, apenas é notada quando os estragos atingem níveis irreparáveis. De forma semelhante, é o que ocorre com os maus gestores públicos que agem acobertados pelo manto dos conluios e dos interesses escusos para se locupletarem às custas dos cofres públicos.
Os escândalos que pipocam diariamente nas manchetes dos noticiários servem para avaliar a dimensão das práticas predatórias que se entranharam em todas as esferas do poder público. Parlamentares, ministros, magistrados e servidores públicos em geral, dos menos aos mais graduados, são tentados a participar da farra perpetrada com o dinheiro público; situação que ocorre, em boa parte, como consequência do sentimento de impunidade que serve de estímulo às práticas antiéticas. Apesar disso, em meio aos desmandos generalizados, algumas iniciativas estão surgindo em reação aos descalabros. Como escopo maior, o resgate da austeridade no trato da coisa pública.
Nessa cruzada pela moralidade, merece menção a campanha nacional "Não Aceito Corrupção" lançada em 31 de maio. Iniciativa do Movimento do Ministério Público Democrático, entidade que reune promotores e procuradores de 22 estados brasileiros, a mobilização tem por objetivo a promoção de uma ampla discussão em torno dos malefícios da corrupção no Brasil. Um ponto que chama a atenção na iniciativa é a preocupação em questionar, via peças publicitárias nos meios de comunicação, a passividade com que a sociedade brasileira encara as práticas de corrupção de uma maneira geral.
Com efeito, apenas com a sensibilização e a consequente reação da população será possível vislumbrar resultados mais concretos nos esforços de combate às práticas viciadas que se instalaram no serviço público. Para se ter uma ideia da extensão dos danos, estudo da Federação das Indústrias de São Paulo alerta que, nos últimos dez anos, foram desviados dos cofres públicos cerca de R$ 720 bilhões. Dinheirama que corresponde a 2,3% de todas as riquezas produzidas no país e que acaba desviada para os bolsos daqueles que fazem da coisa pública apenas uma ação entre amigos. No mesmo período, a Controladoria Geral da União realizou auditorias em 1,5 mil contratos firmados com a União, estados e municípios, encontrando irregularidades em 80% deles.
Por tudo isso, iniciativas como a patrocinada por procuradores e promotores e que se soma a outras emanadas da sociedade civil precisam ser enaltecidas e apoiadas. Devem, porém, ser encaradas como ponto de partida para outras ações nas quais os cidadãos não podem se omitir de participar. Para tanto, também é importante que contem com o respaldo de meios confiáveis para a apuração e a punição dos envolvidos em atos lesivos. Com essa combinação de forças é possível esperar que o Estado brasileiro consiga conter a praga da corrupção.