Seria impossível para aqueles que iniciaram a construção de Curitiba imaginar o destaque que a cidade assumiria no Brasil e no mundo.
Com a criação do curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e a elaboração do terceiro plano diretor da cidade, na década de 1960, o município então provinciano deu os primeiros passos para exibir ao mundo a sua vocação para ser destaque em planejamento urbano.
Desta época até o final da década 1990, ocorreu a “era de ouro” de Curitiba: quando se construíram os parques e monumentos emblemáticos, como o Jardim Botânico e a Ópera de Arame, as vias exclusivas para ônibus (verdadeiro ícone da cidade, que foram copiadas mundo afora) e a primeira grande via pública exclusiva para pedestres do Brasil, a Rua XV de Novembro. Colhendo os frutos da boa execução de seu planejamento urbano, a cidade cresceu e se desenvolveu muito, mas aquele espírito vanguardista foi aos poucos diminuindo, e os curitibanos, gradativamente, começaram a sentir certa nostalgia e inquietude por novas ondas de inovação.
Aquele mesmo espírito criador que animava os planejadores urbanos da década de 1960 precisa ser retomado
Para planejar um novo futuro para uma cidade, é crucial não ter medo de sonhar grande. E isso significa saber fazer as perguntas certas: Como construir uma cidade que se ama? Qual o papel que cada cidadão pode desempenhar, voltando ao caso de Curitiba, para que retome seu status de referência mundial? Qual a responsabilidade dos arquitetos e planejadores urbanos no destino da cidade? Essas perguntas têm de ser respondidas seriamente, e aquele mesmo espírito criador que animava os planejadores urbanos da década de 1960 precisa ser retomado.
Atualmente, Curitiba dá boas mostras que está retomando o dinamismo urbano. Em 2018, a cidade desbancou São Paulo, e foi considerada a mais inteligente do Brasil, de acordo com o Connected Smart Cities, levantamento que explora o desempenho de 700 municípios do país para definir o potencial de desenvolvimento de cada um deles. O bom resultado foi puxado pelo bom desempenho das áreas de investimento municipal, transparência e tecnologia.
Outro indício é a realização, pela segunda vez no Brasil, do maior congresso de cidades inteligentes do mundo, a Smart City Expo, que contou com 85 palestrantes, 25 sessões extras e a exposição de 35 empresas com soluções e produtos inteligentes e aconteceu nos dias 21 e 22 de março. Curitiba começa a dar passos concretos para ser uma smart city, em grande parte pela contribuição tanto do governo como da iniciativa privada.
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O conceito de cidades inteligentes está difundido por todo o globo, mas mesmo os países mais desenvolvidos encontram dificuldades em realizá-lo. O principal problema talvez sejam os entraves legais oriundos da discussão entre espaços públicos e privados. Mas enquanto a legislação é debatida, a capital paranaense tem caminhado na criação de um ambiente inovador.
Ser uma cidade inteligente não é apenas empregar a tecnologia pela tecnologia, mas utilizá-la de forma a facilitar a vida do cidadão, criar espaços públicos interativos e seguros, integrar serviços que descompliquem a rotina das pessoas, aprimorar as estruturas e os processos da cidade. Tudo isso integrado ao meio-ambiente, para que o ecossistema seja preservado.
A capital do Paraná já demonstrou várias faces durante a sua existência, de um vilarejo com etnias isoladas a um grande centro urbano multiétnico, de cidade rural a um polo industrial e tecnológico, de capital ecológica à cidade inteligente, mas sempre com vocação para a inovação. Curitiba merece os parabéns por mais este aniversário. Entretanto, com a consciência de que há muito trabalho a ser feito para construirmos a cidade com a qual sonhamos.