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Editorial

A produtividade do trabalho

Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), sobre a qual demos notícia em nossa edição de domingo, mostra-nos um quadro pouco animador sobre a produtividade do trabalhador brasileiro. Somos um dos povos que mais dedicam horas ao trabalho, mas nossa capacidade de transformar em valor monetário a quantidade de tempo dispendida na produção situa-se nas piores posições no ranking mundial.

Os brasileiros trabalham em média 1.841 horas por ano e cada hora produz um valor equivalente a US$ 8,29. Enquanto isso, os holandeses, que trabalham bem menos, apenas 1.362 horas por ano, têm um rendimento/hora quatro vezes maior, US$ 32,49. Brasileiros e americanos têm jornadas bem parecidas, mas nos Estados Unidos cada hora trabalhada redunda numa produção equivalente a US$ a 35,42.

A baixa produtividade do trabalho no Brasil tem inúmeras razões, mas pelo menos uma delas expõe com clareza o desmazelo com que nossos governos trataram a educação e a qualificação da mão-de-obra. Não há um só exemplo no mundo de aumento da produtividade do trabalho em que não esteja fortemente presente o fator educacional como sua principal mola propulsora.

É claro que não se pode comparar o rendimento de um operário norte-americano, que conta com a utilização de ferramentas de alta tecnologia no processo produtivo, com um brasileiro ainda submetido ao uso de equipamentos obsoletos. Por outro lado, contudo, deve-se desde logo reconhecer que quanto maior a sofisticação dos métodos de produção, maior é a qualificação que se exige do trabalhador.

Sem educação e qualificação apropriadas, portanto, não há como tornar os seres humanos mais produtivos e criativos. Para eles, as oportunidades de desenvolvimento individual e social ficam limitadas pela exigüidade dos conhecimentos e das competências técnicas que possuem. E para as empresas isto significa que a melhoria dos seus níveis de produção só se torna possível – mas o que nem sempre é economicamente viável – com o acréscimo incessante de mais trabalhadores em seus quadros.

A globalização e a forte competição exigem das empresas nacionais um grande esforço de modernização de seus processos produtivos. Caso contrário sucumbem à concorrência das estrangeiras. É esta a realidade que muitos setores brasileiros vivenciam desde pelo menos o início da década de 90, quando começou o processo de abertura. De lá para cá, quem não investiu em tecnologia de produção faliu, foi engolido pelo ingresso de produtos importados mais baratos ou simplesmente foi absorvido por outras empresas mais modernas.

Não há, portanto, outra saída: assim como fizeram os Tigres Asiáticos e assim como nos ensina o vertiginoso crescimento da Índia, é preciso que o Brasil passe a investir pesadamente na educação e na disseminação de conhecimentos tecnológicos de qualidade. Tarefa que, se não foi feita pelos governos presentes e passados, precisará ser enfrentada pelos futuros. Só assim se conseguirá transformar o trabalho em riqueza – na proporção da capacidade dos brasileiros de trabalharem muito mais que outros povos.

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