Os indicadores do mercado de trabalho divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Ministério do Trabalho e Previdência voltaram a mostrar melhorias, mas também permitem ver os enormes desafios para que o Brasil finalmente vença o grande mal socioeconômico do desemprego. O Cadastro Geral de Empregados e Desmpregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho, que vem registrando saldo positivo em todos os meses de 2021, fechou outubro com 253 mil novas vagas com carteira assinada, chegando a 2,646 milhões no acumulado de 2021. Já o desemprego medido pelo IBGE na Pnad Contínua caiu para 12,6% no terceiro trimestre deste ano – é a primeira vez desde abril de 2020 que o índice fica abaixo dos 13%.
O IBGE fez uma leve revisão nos dados anteriores da Pnad Contínua para compensar a mudança na forma de coleta das informações, que passou a ocorrer majoritariamente por telefone desde o início da pandemia de Covid-19. Já considerando os números revisados, o desemprego no terceiro trimestre de 2021 é 1,6 ponto porcentual menor que no segundo trimestre deste ano, e 2,3 pontos menor que no mesmo período do ano passado. O número absoluto de desempregados neste terceiro trimestre – 13,45 milhões de brasileiros – também é menor que no trimestre anterior (14,8 milhões) e que no mesmo período de 2020 (14,6 milhões). E a quantidade de desalentados, aqueles que nem sequer tentaram encontrar um emprego e que foram 5,1 milhões no terceiro trimestre, também caiu: 6,5% na comparação com o segundo trimestre de 2021, e 12,4% em relação ao terceiro trimestre do ano passado.
A maior ameaça ao combate ao desemprego não é a nova variante do coronavírus, mas outra epidemia tipicamente brasileira: a do descaso com as contas públicas
No entanto, os dados do IBGE também mostram as enormes disparidades regionais – o desemprego em Pernambuco é de 19,3%, contra apenas 5,3% em Santa Catarina – e a dificuldade de se criar empregos de qualidade durante esta árdua recuperação da economia depois da devastação da Covid-19: boa parte das novas colocações está no mercado informal e paga pouco. O rendimento médio real (ou seja, descontada a inflação) do trabalhador está em queda constante desde setembro de 2020 (à exceção de um único mês, em todo este período, no qual houve ligeiro aumento), quando era de R$ 2.766; agora, ele está em R$ 2.459. A explicação para a queda, no entanto, não está apenas nas dificuldades do mercado de trabalho, mas também na inflação, que já supera os 10% no acumulado dos últimos 12 meses e deve terminar o ano também em dois dígitos, minando o já escasso poder de compra do trabalhador.
A recuperação, no entanto, enfrentará momentos complicados à frente. Assim como o país ainda estava brigando para se reerguer após a catástrofe da recessão lulopetista quando o coronavírus atacou, há ameaças que podem frear a retomada pós-pandemia. Não se trata nem mesmo de um possível efeito da nova variante do Sars-CoV-2 identificada na África do Sul, até porque suas características ainda estão sendo estudadas, mas de outra epidemia tipicamente brasileira: a do descaso com as contas públicas. O crescimento econômico de 2022 está fortemente ameaçado pelos incentivos à gastança promovidos por Executivo e Legislativo. Com a justificativa de abrir espaço no orçamento para uma importante ajuda aos brasileiros mais vulneráveis, o teto de gastos e o arcabouço legal da responsabilidade fiscal estão sendo erodidos, contornados ou praticamente abolidos, o que abala a confiança do investidor no Brasil e puxa para cima o dólar, a inflação e os juros.
O combate ao desemprego não tem como ser bem-sucedido se o Brasil não for um porto seguro para investimentos que gerem renda e novos postos de trabalho. No entanto, não haverá investimento em quantidade suficiente para absorver tantos brasileiros ainda sem trabalho se o país não der uma demonstração sólida de que está comprometido com uma economia em ordem, sem explosão no gasto público, sem controle da dívida pública, sem inchaço na estrutura estatal. Mas é exatamente esse descontrole que se tornou predominante, enquanto privatizações e reformas estruturantes ficam em segundo plano ou vão sendo lentamente desidratadas.