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editorial

A raiz da inflação

A inflação brasileira – que desorganizou o sistema de preços, retardou o desenvolvimento e gerou pobreza – teve início em sua forma mais agressiva nos anos 50, no governo Juscelino Kubtischek, e não foi uma praga lançada sobre o Brasil. Na prática, foi o resultado de crenças erradas e políticas desastrosas que, embora exterminadas em alguns momentos, ainda fazem parte do imaginário de boa parte dos políticos e, sobretudo, dos governantes. Embora a inflação tenha chegado a 10,67% no ano passado, contra a meta oficial do Banco Central (BC) de 4,5%, os dirigentes do PT resolveram exigir da presidente Dilma que retome práticas que há seis décadas geram inflação e os males dela derivados.

O governo Juscelino incorporou uma crença esquisita, não encontrada em nenhum livro de teoria econômica, de que a emissão de dinheiro para pagar investimentos não era inflacionária. Diziam os assessores do governo e o próprio presidente que, se fosse para construir estradas e a nova capital federal, a emissão de moeda não era inflacionária, e foi com base nessa ideia maluca que o governo fabricou dinheiro e gastou de forma perdulária. Brasília é filha da inflação e do dinheiro falso nascido de expansão monetária sem respaldo no aumento da produção e da arrecadação tributária.

Os dirigentes do PT resolveram exigir da presidente Dilma que retome práticas que há seis décadas geram inflação

O resultado foi que a inflação apareceu mais à frente e, para a infelicidade da nação, Jânio Quadros, que governou por apenas sete meses, e João Goulart, que governou por dois anos e meio, não eram grandes conhecedores do assunto nem tinham disposição para adotar uma política anti-inflacionária e debelar o mal. Somente a partir de 1964, os ministros da Fazenda (Otávio Gouveia de Bulhões) e do Planejamento (Roberto Campos) conseguiram implantar uma bem-sucedida política de combate à inflação, ainda que à custa de alguma recessão.

Após dois anos de austeridade, o Brasil reorganizou a economia e teve anos de crescimento econômico, interrompidos no governo Geisel, a partir de 1974, quando o setor público voltou a gastar o que não tinha e a pagar com expansão monetária e endividamento do Tesouro Nacional. Desde a redemocratização, em 1985, o governo nunca mais parou de gastar e de aumentar sua dívida, transformando o Estado brasileiro no maior obstáculo ao crescimento sustentado. Depois da explosão da inflação e dos terríveis males impostos ao país, vários planos econômicos foram tentados e nenhum deles enfrentou a verdadeira causa da inflação: os gastos do governo e os déficits públicos.

A crise chegou a tal ponto que somente em 1994 houve um plano bem construído e alguma reforma na questão fiscal, permitindo que a nova moeda, o real, fosse o início de um tempo sem inflação. Durante o governo Lula, ajudado pela bonança internacional, o país manteve o déficit público relativamente controlado e a inflação dominada. Durante seu primeiro mandato, Dilma voltou à velha prática que vem desde Juscelino, o mundo deixou de mandar bons ventos, a inflação apareceu de novo, ao lado de outro mal: queda no Produto Interno Bruto (PIB) – isto é, recessão.

A história deveria ter ensinado alguma coisa aos dirigentes do PT sobre as consequências da irresponsabilidade fiscal. Mas não. O partido está pressionando a presidente da República para retomar a prática de aumentar o tamanho do Estado, gastar o que não tem, fazer déficits fiscais e deixar a dívida pública explodir. Se o governo entrar nessa, será mais uma década perdida.

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