O ditador venezuelano Nicolás Maduro segue incansável na escalada das arbitrariedades a que submete o país. Seguiu adiante com seu plano de instalar uma Assembleia Nacional Constituinte e de perseguir seus adversários seja sob a aparência da lei, como no caso da procuradora-geral Luisa Ortega, destituída pela Constituinte após ter feito críticas à ditadura de Maduro, seja por meio da violência, com prisões arbitrárias de líderes da oposição e assassinatos de manifestantes, mortos pela Guarda Nacional Bolivariana ou pelos coletivos paramilitares chavistas.
Nada disso impede que Maduro receba o apoio entusiasmado de partidos como o PT, cuja presidente, a senadora Gleisi Hoffmann, não esconde nem mesmo o desejo de que o Brasil passasse por um processo semelhante de instalação de uma assembleia constituinte – por mais que ela alegue que essa constituinte teria a função exclusiva de fazer a reforma política, o que é bastante controverso, pois constituintes, por natureza, não estão sujeitas a tais limitações. No fundo, a Venezuela em que Maduro detém o poder total é o sonho do PT para o Brasil, em que tudo estaria a serviço do partido.
O “socialismo do século 21” não difere em nada dos socialismos do século 19 e, especialmente, do século 20
Mas há outros setores da esquerda que demonstram sua insatisfação com a ditadura venezuelana. Políticos, intelectuais e formadores de opinião têm feito críticas à constituinte e à repressão feita pelos bolivarianos, mas sempre tomando o cuidado de direcioná-las unicamente a Maduro. O problema seria o ditador em si, sua incompetência, suas falhas de caráter, e não o regime que lhe deu origem. Essa argumentação, no entanto, não passa de uma tentativa de salvar as aparências, isentando o que realmente está por trás do caos e do autoritarismo verificados hoje na Venezuela.
E a origem de tudo não está nas pessoas – nem em Maduro, nem no ditador que o antecedeu, o falecido Hugo Chávez. Ambos agiram motivados por uma ideologia que é totalitária na sua essência, um caminho seguro para o caos. Chávez a denominou de “socialismo do século 21”, mas ele não difere em nada dos socialismos do século 19 e, especialmente, do século 20: a anulação completa das instituições democráticas, colocadas a serviço de um poder central, seja o Partido, seja um ditador personalista; o estrangulamento completo da livre iniciativa e do setor privado, extintos ou submetidos à burocracia estatal planificadora; a perseguição à oposição política e à imprensa livre.
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O receituário colocado em prática na Venezuela é o mesmo já visto na União Soviética, na Polônia, na Tchecoslováquia, no Camboja, na China, em Cuba, na Coreia do Norte, com os mesmos resultados: pobreza generalizada (à exceção dos burocratas do governo), escassez de artigos básicos, caos econômico, a transformação do país em uma grande cadeia a céu aberto, onde a única liberdade é a de seguir as determinações da cúpula governante. Para repetir completamente a experiência da Cortina de Ferro, só falta aos venezuelanos serem formalmente proibidos de deixar o país – como isso ainda não ocorreu, quem não teve a oportunidade de fugir antes se dirige agora às fronteiras, especialmente com o Brasil e com a Colômbia, em busca de liberdade e oportunidades.
O bolivarianismo não é um ideário único, inventado por Hugo Chávez sem conexão nenhuma com outras ideologias. Nenhuma crítica à situação atual da Venezuela será sólida se não mostrar que esse estado de coisas foi causado pela aplicação, no país, dos princípios socialistas, que, ao sufocar a autêntica liberdade, inevitavelmente degeneram em autoritarismo e pobreza.
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