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Editorial

A reação do PIB e os desafios à frente

Precatórios
Avanço do comércio impulsionou PIB do primeiro trimestre de 2024. (Foto: Geraldo Bubniak/AEN)

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Os números do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2024 vieram em linha com o que tanto o governo quanto o mercado financeiro esperavam, com alta de 0,8% na comparação com o último trimestre de 2023 e de 2,5% no acumulado dos últimos 12 meses. Depois da estagnação na segunda metade do ano passado, a reação do PIB é razão para alívio, mas ainda é muito cedo para afirmar, como fez o presidente Lula, que “estamos no rumo certo”, já que comparações e desdobramentos apontam para alguns fatores de risco mais à frente.

Como já se antecipava, desta vez o agronegócio, setor tão demonizado por Lula e pelo PT, não teve o desempenho extraordinário que ajudou e muito o PIB em 2023, por uma série de circunstâncias que fogem ao controle dos produtores, como questões climáticas. O avanço de 11,3% neste primeiro trimestre é significativo, mas inferior aos 16,2% do mesmo período do ano passado. O maior destaque do trimestre, pelo lado da oferta, veio dos serviços, que subiram 1,4% – o comércio, com alta de 3%, deu uma contribuição especial.

Este resultado é consequência da elevação no consumo das famílias, que cresceu 1,5% no primeiro trimestre de 2024 na comparação com o último trimestre de 2023. Um mercado de trabalho resiliente, aumento real no salário mínimo, elevação nos benefícios sociais pagos pelo governo e inflação mais comportada, graças ao trabalho do Banco Central que Lula tanto critica, são os fatores por trás desse aumento do consumo, que no entanto vem com alguns efeitos colaterais contra os quais é preciso se precaver.

Apesar do significativo aumento na Formação Bruta de Capital Fixo neste trimestre, de 4,1%, o investimento produtivo ainda está em patamares baixíssimos: 16,9% do PIB, contra 17,1% no primeiro trimestre de 2023, muito longe dos 25% do PIB considerados necessários para garantir um desenvolvimento mais sustentável no médio e longo prazos. A poupança teve queda ainda maior: passando de 17,5% para 16,2% do PIB no espaço de um ano. A história recente do Brasil demonstra claramente que um crescimento movido apenas pelo estímulo ao consumo, sem que poupança e investimento também aumentem, pode até gerar resultados positivos em um primeiro momento, mas a conta amarga não demora muito para ser cobrada.

Mas, para que o investimento cresça, será preciso que os juros continuem baixando. Monitorar até que ponto o aquecimento da economia resulta em pressão inflacionária já seria tarefa bastante complicada para o Copom em um país com responsabilidade fiscal; o fato de o atual governo ter ojeriza ao controle do gasto público só torna a conta ainda mais complexa. Se a política monetária tiver de se manter em terreno contracionista para contrabalançar uma política fiscal frouxa, o potencial de crescimento nos próximos meses estará em risco – e não por culpa do Banco Central, que fique claro.

Tudo isso ainda desconsidera o efeito da catástrofe das enchentes no Rio Grande do Sul, que deve afetar negativamente o PIB do segundo trimestre – isso se as consequências não continuarem a ser sentidas no resto do ano. Lula e Fernando Haddad podem até demonstrar euforia, e seria estranho se não o fizessem, mas quem examina com lupa os números sabe que as incertezas e desafios ainda são enormes, tanto quanto as dúvidas sobre a capacidade de o atual governo fazer frente a eles.

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