Se a população de um país cresce, a manutenção do padrão médio de bem-estar social exige que o Produto Interno Bruto cresça na mesma proporção, para que não haja queda no PIB per capita e no padrão de vida geral. Se o PIB de um ano para outro não cresce, configura-se uma situação de estagnação, com empobrecimento nacional em razão do aumento populacional. Se o PIB de um ano for menor que o do ano anterior, fica configurada a recessão, que pode ser moderada, média ou grave. O Brasil viveu estagnação em 2014 – quando o PIB foi igual ao de 2013 – e entrou em recessão em 2015. Ela parecia, no começo do ano, ser moderada. Mas a situação foi se deteriorando ao longo dos meses e o país chega a este mês de dezembro com um quadro confirmado de recessão grave, com o PIB podendo cair até 4% em relação ao ano anterior.
O Brasil tem propensão a fazer as coisas erradas na economia de forma sistemática
O PIB do terceiro trimestre de 2015 caiu 1,7% sobre os três meses anteriores. Com esse resultado, confirma-se a recessão grave configurada na possibilidade de o PIB cair cerca de 4% no ano. A recessão nesse nível pode, além do empobrecimento médio da população, lançar mais 4,5 milhões de pessoas no desemprego ao fim de 2015, situação que, somando os 6,5 milhões de desempregados no fim de 2014, pode ser considerada catastrófica. A queda de 4% do PIB em 2015 equivale a R$ 240 bilhões a menos em produto e renda, cifra elevada com capacidade de gerar tensões sociais.
O Brasil tem propensão a fazer as coisas erradas na economia de forma sistemática. Ao contrário do que a presidente Dilma insiste em dizer, a causa principal da recessão atual não é a desaceleração da economia internacional, mas os erros cometidos internamente sob a liderança do governo e suas trapalhadas na política econômica. Os agentes de mercado estimam que a recessão vai continuar em 2016 e o PIB deve cair ainda mais. Há bancos divulgando a seus clientes que o PIB brasileiro pode cair 8% no período 2015/2017, o que configuraria não mais uma recessão, mas uma depressão econômica, que ocorre quando a recessão se prolonga e a queda do PIB se torna exagerada, com falências, inadimplência financeira, calote de dívidas, fuga de capitais e empobrecimento em massa.
A situação atual ainda não pode ser classificada como depressão econômica; também não é o caso para atitudes alarmistas. Mas não é pequeno o risco de que a depressão se instale nos próximos anos, principalmente porque o Brasil tem baixa renda per capita – em torno de US$ 11 mil/ano –, a população continua crescendo em torno de 1,8 milhão de habitantes ao ano, a carga tributária não para de crescer, as contas públicas saíram do controle, o desemprego está em alta, fábricas estão parando e a crise política desestimula investimentos e negócios.
A realidade costuma castigar duramente os países que persistem nos erros de gestão macroeconômica – como bem mostra o exemplo da Grécia –, e o Brasil está indo longe demais na paralisia em relação ao enfrentamento da recessão e das reformas tão faladas e nunca implantadas. Há pouco tempo, Brasil e China firmaram acordos comerciais, de investimentos e de transferência de tecnologias, mas até agora praticamente nada aconteceu, em parte porque os chineses estão esperando para ver que rumos a crise política vai tomar.
Recentemente, o Brasil recebeu sinais de que o país é bem-vindo no Tratado Transpacífico – firmado por 12 nações, entre as quais estão Estados Unidos, Japão e Canadá –, mas para isso precisa resolver seus problemas internos na política e na economia. Por esse tratado, espera-se o aumento do comércio exterior entre os membros do acordo, aumentos de investimentos diretos em infraestrutura física e novas empresas, transferência de tecnologia e comércio de serviços. Ficar fora de tratados como esse, sobretudo para um país em recessão e que precisa desesperadamente de investimentos, é grave erro de política econômica e de política externa. O Brasil não sairá da recessão se continuar adotando as mesmas receitas que jogaram o país no caos.
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