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Editorial

A resiliência e os desafios do mercado de trabalho

PNAD Contínua
Taxa de desemprego é a menor para um trimestre até maio desde o ano de 2015, segundo a Pnad Contínua do IBGE. (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo/arquivo)

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Entre as observações que vêm sendo feitas pelo Copom em suas atas e comunicados está a resiliência do mercado de trabalho. Os dois indicadores mais importantes dessa área, referentes ao mês de maio, reforçam essa constatação. O Novo Caged, do Ministério do Trabalho e Emprego, constatou a abertura de mais 155 mil postos de trabalho com carteira assinada, enquanto a Pnad Contínua, do IBGE, registrou uma nova queda do desemprego, que foi de 8,3% no trimestre móvel encerrado em maio, contra 8,5% no período de fevereiro a abril, e 8,8% nos primeiros três meses de 2023. O número, no entanto, ainda está ligeiramente acima dos 7,9% registrados entre outubro e dezembro de 2022, e que continua a ser o melhor índice dos últimos meses, já considerando a recuperação pós-pandemia.

No Caged, que mede apenas o emprego formal, todos os setores registraram abertura de vagas, e destaca-se o setor de serviços, responsável por praticamente metade do saldo positivo de maio, enquanto a indústria ficou na última posição. A geração de emprego também está bem distribuída pelo país, com 23 das 27 unidades da Federação elevando o número de trabalhadores com carteira assinada – as exceções em maio foram Alagoas, Rio Grande do Sul, Sergipe e Roraima. Também é preciso ressaltar o fato de que, das 155 mil novas vagas, 106,4 mil tenham ido para jovens de 18 a 24 anos, e 20 mil, para jovens e adolescentes de até 17 anos – número relevante, considerando que os mais jovens costumam ser os mais afetados pelo desemprego. No entanto, um dos maiores desafios do mercado de trabalho permanece: o fato de 116,5 mil novos postos estarem na faixa de 1 a 1,5 salário mínimo mostra que o país segue gerando principalmente empregos de baixa remuneração.

A necessidade de políticas públicas que facilitem a geração de emprego, reduzindo o intervencionismo e as amarras ao setor privado, ganha muito mais relevo em uma situação como a atual, mas o que se vê no governo federal é um verdadeiro deserto de ideias

Os números do IBGE, embora tragam uma nova redução do desemprego, escondem uma informação preocupante, explicada por Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílio: “Esse recuo no trimestre foi mais influenciado pela queda do número de pessoas procurando trabalho do que por aumento expressivo de trabalhadores. Foi a menor pressão no mercado de trabalho que provocou a redução na taxa de desocupação”. Ou seja, o número de pessoas ocupadas ficou estável; o que caiu foi a quantidade de brasileiros à busca de um emprego.

Esse dado pede muita atenção, especialmente porque o empresariado continua sem expectativas muito animadoras para o futuro. Na medição da Fundação Getulio Vargas, também referente a maio, a média do Índice de Confiança Empresarial subiu ligeiramente para 91,5 pontos, mas ainda está abaixo dos 100 pontos que indicam neutralidade, ou seja, o pessimismo ainda predomina. Isso ocorre mesmo no setor com o melhor índice, a construção civil, com 94 pontos; o comércio está na ponta mais pessimista, com 87,3 pontos. Além disso, a FGV ainda percebeu que, quando se leva em consideração horizontes mais longos, como seis meses, a confiança diminui ainda mais.

A necessidade de políticas públicas que facilitem a geração de emprego, reduzindo o intervencionismo e as amarras ao setor privado, ganha muito mais relevo em uma situação como a atual, mas o que se vê no governo federal é um verdadeiro deserto de ideias. Tudo o que o Planalto tem a oferecer é uma tentativa de aquecer o consumo com descontos para a compra de veículos, em uma tentativa desesperada de estimular a indústria automotiva, que já paralisou linhas de montagem várias vezes no primeiro semestre. No Congresso, não parece ser muito diferente. A desoneração da folha, que hoje existe para apenas alguns setores, foi condicionada, na reforma tributária, a um eventual aumento na arrecadação com impostos sobre renda e patrimônio, recurso que tributaristas apelidaram jocosamente de “na volta a mamãe compra”. Nesse ritmo, não há como esperar que o mercado de trabalho continue demonstrando por muito mais tempo a resiliência que tem exibido até agora.

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