Pessoas preparadas para espalhar o terror aparecem nos lugares e situações menos esperados, surpreendendo os mais bem preparados órgãos de inteligência e burlando os mais sofisticados aparelhos de detecção de armas e explosivos. Por isso é sempre muito difícil prever uma situação que coloca em risco a vida da população.

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E é com essa imprevisibilidade do terrorismo que o presidente norte-americano Barack Obama decidiu acabar, após a prisão do nigeriano Umar Farouk Ab­­dulmutallab, de 23 anos, que tentou explodir um avião norte-americano no dia de Natal, no voo Amsterdã-Detroit.

Assim prometeu ele no último dia 5, ao fazer o primeiro balanço oficial das investigações sobre essa nova tentativa de atentado aéreo, que só não se concretizou porque passageiros e tripulantes dominaram Ab­­dulmutallab antes que ele conseguisse acionar os explosivos no avião.

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Fugindo de suas características, um irritadiço Obama apareceu em público para justificar uma possível grave falha dos serviços de inteligência, que permitiram o embarque do nigeriano portando explosivos naquele voo. O presidente prometeu agir com "o máximo de urgência" para reforçar a segurança aérea. Nos bastidores, contudo, Obama foi duro e chegou a qualificar a ação dos órgãos de inteligência de "trapalhada".

De fato, constatou-se depois da prisão do nigeriano que agências de espionagem dos EUA e o Departamento de Estado tinham informações de que ele fora recrutado pela rede terrorista Al-Qaeda, quando estudava engenharia na famosa University College London (UCL), na capital do Reino Unido. Mas isso não foi suficiente para ser banido de qualquer embarque aéreo com destino aos EUA.

Diante das circunstâncias, Obama não tinha outra saída senão exigir imediata reforma na segurança aeroviária. E agiu rápido. Na quinta-feira, já apresentou o novo pacote, com a dramática afirmação: "Estamos em guerra". Sem culpar em público funcionários em particular ou agências específicas do governo pelas falhas, ele afirmou que a primeira linha de defesa do país é sua inteligência e que é preciso melhorá-la.

Em resumo, o presidente anunciou a adoção de quatro medidas: a primeira é a atribuição de responsabilidade específica pela perseguição de pistas que, segundo ele, precisam ser investigadas todo o tempo. A segunda é a distribuição mais ágil de relatórios entre as agências do governo. A terceira é a revisão do processo de análise de informações. E a quarta é uma revisão no critério de inclusão de nomes na lista de passageiros que não podem viajar para os EUA. Neste caso, desde o Natal, centenas de nomes já foram incluídos nesta "lista negra". Obama ordenou também que informações referentes à situação dos vistos desses suspeitos façam parte do sistema.

Mas não foram apenas pessoas afetadas pela ordem do presidente. O Departamento de Estado norte-americano foi além. Na segunda-feira divulgou uma relação de 14 países denominada de "Estados Patrocinadores do Terrorismo". Os passageiros com voos procedentes de Nigéria, Paquistão, Síria, Irã, Sudão, Cuba, Iêmen, Afeganistão, Argélia, Iraque, Líbano, Líbia, Arábia Saudita e Somália terão suas bagagens de mão inspecionadas e também serão revistados individualmente por policiais. Tal medida, como já foi alertado por líderes muçulmanos, pode colocar em xeque a política deste governo de aproximar os EUA aos povos islâmicos, além de incentivar o xenofobismo e criar uma crise diplomática com esses países.

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Além disso, o presidente esclareceu que os EUA passarão a usar mais scanners e outros equipamentos de alta tecnologia nos aeroportos. Os novos aparelhos serão adotados na tentativa de antecipar as maneiras de se embarcar com itens perigosos em aviões. Tal medida não é apreciada por todos os países da União Europeia. Fato compreensível, uma vez que a utilização de scanners fere os direitos individuais dos cidadãos ao expor o corpo nu do revistado.

Adicionalmente, Washington vai liberar verbas extras para acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias de imagem por parte do governo. Por fim, o governo norte-americano incentivará outros países para que reforcem também seus aparatos de segurança nos aeroportos.

Obama e os EUA escaparam por um triz de amargar mais uma tragédia. Nova perda de vidas humanas por ação terrorista aérea, em território norte-americano, seria como algo imperdoável. E justamente por uma falha da segurança, como a que veio à tona. Para Obama, que está sendo acusado sistematicamente pela oposição republicana de ser fraco na questão da segurança nacional e de não conseguir corrigir falhas de inteligência que persistem desde os atentados de 11 de Setembro de 2001, seria o fim prematuro de seu futuro político. De qualquer forma, os democratas vão sofrer efeitos colaterais: os republicanos esperam explorar o assunto na eleição parlamentar de novembro, na esperança de retomar o controle do Congresso.

Portanto não resta outro caminho senão agir cada vez com maior rigor contra o terrorismo. Mas a tarefa não é fácil, pois envolve questões de liberdades individuais e de relações internacionais.