Com o afastamento de Dilma Rousseff, em maio, o PT passou a apostar no “quanto pior melhor” para conseguir apoio popular à volta da presidente afastada, cuja cassação definitiva ainda precisa ser votada pelo Senado. No vale-tudo petista, era aceitável até mesmo fazer colar no interino Michel Temer, que acabara de assumir, a responsabilidade por consequências da equivocada política econômica dilmista. Pois parece que a estratégia está fazendo água. Uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha na semana passada mostrou que metade dos entrevistados prefere que Temer permaneça no Planalto até o fim do atual mandato, em 2018. Os que desejam o retorno de Dilma Rousseff são 32%, enquanto os 18% restantes disseram “nenhum”, preferiram novas eleições ou não responderam.
Se é verdade que o Brasil está dividido em partes mais ou menos iguais entre apoiadores incondicionais do PT, opositores ferrenhos do petismo e a parcela mais ao centro, que tende a avaliar políticos e partidos de acordo com a situação atual do país, os resultados do Datafolha mostram que Temer está sendo eficaz no esforço para conquistar esse último bloco. Ainda que a parcela de entrevistados que considere seu governo “ótimo” ou “bom” seja de apenas 14%, um ponto porcentual a mais em relação ao governo Dilma em abril, a rejeição é muito menor: se em abril 65% dos entrevistados avaliavam a gestão Dilma como “ruim” ou “péssima”, esse número é de 31% no caso de Temer.
A economia não é o motivo para o impeachment de Dilma, mas precisa dele para o país respirar
Caso o próprio governo e o Congresso Nacional não coloquem obstáculos às reformas que a notável equipe econômica montada por Temer pretende implementar, não será surpresa alguma que os índices de aprovação subam. A população, lentamente, passa a confiar mais na recuperação da economia: 38% dos entrevistados pelo Datafolha acreditam que o país vai melhorar – o maior índice desde 2014, quando Dilma havia conseguido a reeleição enganando o país e dizendo que as contas públicas estavam em ordem, quando na verdade estavam destruídas. Essa percepção não está apenas na população: o Boletim Focus, do Banco Central, que apura as expectativas de diversos agentes econômicos, vem registrando melhoras mínimas, mas constantes, nas projeções para a inflação de 2017 e para o PIB deste ano (ainda em retração) e do ano que vem (com leve expansão).
É verdade, no entanto, que até o momento nenhuma das medidas impopulares, mas necessárias, foi aprovada no Congresso. E décadas de populismo criaram no brasileiro uma alma estatizante. Não à toa o instituto Paraná Pesquisas constatou, em abril, que a maioria da população rejeitava a implantação de idades mínimas para a aposentadoria, a flexibilização das relações trabalhistas e a privatização de estatais. O brasileiro começa a perceber que o petismo custou caro ao país, mas ainda está no meio do processo de ligar os pontos; são poucos os que enxergam com clareza a íntima conexão entre o estatismo populista e o caos na economia.
E é justamente aí que mora o perigo. Dilma anda dizendo que, caso volte ao Planalto, até manteria a equipe econômica, mas a verdade é que ela tem se comprometido com a tal “guinada à esquerda” se retomar a Presidência, ou seja, a intensificação de medidas que contam com certo apoio entre a população, mas que ajudaram a destroçar a economia e o emprego. Seria o fim completo de qualquer esperança de uma recuperação no futuro próximo.
O Datafolha apurou, ainda, que Lula perderia um eventual segundo turno nos três cenários levantados pelo instituto – contra Marina Silva (Rede) e os tucanos José Serra e Aécio Neves. Mas ter o PT longe do poder apenas a partir de 2019 de pouco adianta se o partido tiver a chance de continuar fazendo estrago até 2018. A economia não é o motivo para o impeachment de Dilma, mas precisa dele para o país respirar.
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