A recente crise dos combustíveis quase fez com que os brasileiros não atentassem para a boa notícia da semana: em janeiro deste ano, o Brasil criou 155.178 postos de trabalho com carteira assinada, segundo dados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho.
O setor de serviços liderou a retomada do emprego, com 102 mil novos postos de trabalho, na esteira do fim das restrições provocadas pela pandemia da Covid-19. Em seguida, com 51,4 mil empregos, vem a indústria, e a construção, com 36,8 mil novos postos de trabalho. A maior parte dos empregos (48,3 mil) foi criada em São Paulo, seguido de Santa Catarina (23,4 mil), Paraná (18,4 mil), Rio Grande do Sul (17,1 mil) e Mato Grosso (14,7 mil).
A renda média dos trabalhadores brasileiros também registrou aumento real. O salário médio de admissão em janeiro de 2022 foi de R$ 1.920,59, um aumento de R$ 115,24 comparado com o mês anterior - aproximadamente 6,38% de variação.
Os números confirmam a resiliência da economia brasileira. Em números absolutos, o país já superou o período da pandemia com folga. O desemprego já está chegando aos níveis anteriores da COVID-19, mas não dá para descansar. O país ainda está muito longe dos níveis de empregabilidade que marcaram o início da segunda década deste século. Levantamento publicado pela consultoria IDados no início fevereiro deste ano aposta que o país deve terminar o ano de 2022 com saldo positivo de apenas 500 mil novos postos de trabalho, ficando cerca de 12 milhões de brasileiros na condição de desempregados, uma redução projetada de 0,4% no índice de desemprego se comparada com os números de dezembro de 2021, quando o IBGE divulgou uma taxa de desemprego de 11,6%.
É claro que essa projeção levava em conta os riscos então incertos da variante ômicron. Com a pandemia dando sinais de recrudescimento, o mercado já dava sinais de maior alívio, mas o advento da crise internacional de combustíveis trouxe de volta a incerteza, dado os riscos de recessão global. O preço dos combustíveis e do gás de cozinha tem impacto direto no orçamento dos brasileiros, gerando aumentos nos preços das passagens, da comida e de outros produtos. E a incerteza envolvida no futuro da economia internacional traz insegurança para investidores e empresários.
Em face da atual ameaça ao emprego formal representada pelos riscos de recessão global, conforme tratamos em profundidade noutra ocasião, faz-se necessário olhar atento para transformar turbulências em oportunidade. Nesse sentido, convém reconhecer que algumas medidas da equipe econômica do governo têm resultado num clima de negócios favorável. É o caso do prosseguimento na agenda de concessões e privatizações, redução da burocracia, redução de barreiras de entrada em setores muito regulados (combustíveis, por exemplo), flexibilização das relações trabalhistas e programas que possam melhorar a qualificação dos trabalhadores, como o carteira verde-amarela.
Contudo, medidas estruturais mais impactantes necessitam de empenho maior por parte do governo, já que, num momento de crise, o ônus político da paralisia cobra muito mais caro do que muitas medidas que podem parecer impopulares num primeiro momento. É o caso da reforma tributária, cuja aprovação permanece ainda pendente no Senado. E da reforma administrativa, igualmente sem avanço, que poderia representar uma folga importante nos cofres públicos para permitir maiores investimentos num cenário tão incerto. Em outras situações recentes, o governo já mostrou que é possível usar emergências para apresentar soluções estruturadas. Não há motivo para acreditar que seria impossível fazer o mesmo com a retomada do emprego. Basta a vontade política de não deixar o Brasil parar.
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