A queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,8% no ano passado sobre 2014 e a previsão de que o PIB de 2016 pode cair outros 3,5% levaram os analistas e os políticos à discussão sobre quais medidas poderiam ajudar na recuperação da atividade econômica e impedir que a recessão e sua consequência mais grave, o desemprego, se agravem. As medidas e políticas devem, por óbvio, ser adequadas às causas da recessão, sob pena de não terem eficácia no propósito de recuperar o PIB.
Embora haja outras razões, há três fatores que tiveram forte impacto na deterioração da economia. O primeiro foi o fim da bolha de consumo ocorrida até 2011. Com medo dos efeitos da crise mundial de 2007/2008, o governo Lula fez de tudo para que a população ampliasse o consumo, com destaque para a redução de tributos, a liberação de linhas de crédito, a baixa dos juros e os maiores prazos para compras a prestação. Essas medidas jogaram o consumo para o alto e elevaram o endividamento das pessoas.
A receita keynesiana para o Brasil de hoje apenas jogaria o país numa crise ainda maior mais adiante
O segundo fator foi a redução da demanda internacional, agravada pela queda do consumo na China, e a baixa nos preços das commodities que o Brasil exporta, cujo efeito interno foi o desestímulo da produção nos setores exportadores. O terceiro foi a deterioração acelerada da confiança dos investidores nacionais e estrangeiros na economia brasileira e na estabilidade política. Já no segundo ano do governo Dilma, chegou a hora do acerto de contas, e o consumo foi reduzido diante da necessidade de as pessoas pagarem as dívidas, da elevação do desemprego, do aumento da inflação e da queda no índice de confiança dos consumidores.
Diante da grave recessão atual, economistas e políticos de esquerda passaram a propor que o setor público aumente seus gastos e eleve tributos, usando como base as teorias de John Maynard Keynes, o economista que construiu o arsenal teórico para o enfrentamento da depressão econômica dos anos 1930. Porém, talvez pela falta de estudo aprofundado das teorias econômicas, eles não entenderam as ideias de Keynes nem a diferença de realidade entre aquela depressão e a atual crise brasileira.
A depressão dos anos 1930 tinha as características comuns das recessões, mas havia um elemento que não existe na crise de hoje: a deflação. Na época, os preços caíam à medida que a crise aumentava, fato que levou Keynes a propor um programa de gastos públicos sem a cobrança de mais impostos. A proposta keynesiana teve por base a tese de que a conta poderia ser paga com emissão de moeda sem gerar inflação, pois, como os preços estavam caindo sistematicamente, havia espaço para emitir dinheiro sem que isso fizesse os preços explodirem.
Para Keynes, uma vez elevada a demanda agregada pelos investimentos públicos, o governo deveria cessar os gastos e voltar ao equilíbrio orçamentário, como forma de impedir que o déficit financiado por emissão de moeda criasse uma crise inflacionária. O erro de Keynes foi acreditar que, uma vez superada a crise, os políticos iriam retornar ao equilíbrio orçamentário. Uma vez criado o déficit, os governos do mundo inteiro nunca mais pararam de gastar, aumentar impostos, criar endividamento público e emitir moeda.
A crise voltou nos anos 1970, com a explosão da dívida governamental, a inflação e o inchaço das máquinas públicas lotadas de empresas estatais, efeitos que deram combustível ao retorno das ideias liberais a favor de menor intervenção, mais privatização e desregulamentação. Portanto, a receita keynesiana para o Brasil de hoje é uma “não solução”, que apenas jogaria o país numa crise ainda maior mais adiante.
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