A inflação é uma doença do organismo econômico praticamente impossível de ser extinta em definitivo, como ocorre com as doenças elimináveis que, uma vez curadas, não exigem mais que o paciente siga ingerindo os medicamentos que promoveram a cura. A inflação é uma doença possível de ser controlada, porém não passível de extinção por meio de um único tratamento feito somente uma vez. Basta abandonar os medicamentos que a mantêm sob controle para que ela retorne, muitas vezes de forma mais agressiva. A inflação de 12 meses acumulada até junho de 2021, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), atingiu 8,35%. Essa taxa é preocupante e recomenda atenção especial, até porque o IPCA-15 de julho, uma “prévia” da inflação oficial mensal, continua alto, marcando 0,72%.
Com o efeito direto da inflação na redução do poder de compra dos salários, a eventual persistência da elevação dos preços à mesma taxa verificada nos 12 meses citados fatalmente aumentará ainda mais a impopularidade do governo e dos governantes, diminuirá a confiança da população na política econômica e pode estimular tensões sociais, inclusive a possibilidade de greves patrocinadas pelos sindicatos sob demanda de reajustes salariais. O Brasil tem experiência de ver todos os governos dos períodos inflacionários perderem popularidade e se enfraquecerem em termos de governabilidade. A inflação brasileira desde abril de 2020, quando a pandemia se instalou de vez em terras nacionais, sofreu os efeitos da desorganização a que foi submetido o sistema produtivo em função da pandemia, da paralisação de grande parte das atividades econômicas e do isolamento social compulsório, além do aumento dos custos e dos preços da energia elétrica derivado da grave falta de chuvas nos últimos 18 meses.
A inflação é uma doença que empobrece a nação, piora os indicadores sociais e age contra o crescimento econômico e o desenvolvimento social
Por ironia, a taxa de inflação subiu também pelo aumento da demanda internacional por produtos de consumo, principalmente alimentos, enquanto o produto brasileiro total, pelo conceito de Produto Interno Bruto (PIB), caía 4,1% em 2020. Ao lado de todos esses problemas e, em maior grau, por causa da recessão do ano passado, a arrecadação tributária do setor público caiu, enquanto o governo passava a gastar mais com o auxílio emergencial aos que perderam renda, chegando a pagar mais de 67 milhões de pessoas beneficiadas, de forma que a combinação de menor arrecadação e mais gastos (ainda que necessários diante das circunstâncias da pandemia) resultou em aumento do déficit público nas três esferas da Federação. Como é do conhecimento geral, déficit governamental é sempre um combustível que mais cedo ou mais tarde incendeia os índices inflacionários.
Se o aumento da inflação, quase no dobro da meta oficial estabelecida, for temporário e decorrer da anomalia resultante de uma pandemia grave que sacrificou todos os países do mundo, e se os índices do IPCA começarem a convergir para a meta oficial de 2021, que é de 3,75%, o estrago na economia nacional – composta de três entidades internas: pessoas, empresas e governo – poderá ficar restrito a uns poucos anos e o país poderá sonhar com recuperação robusta a fim de chegar a 2030 tendo uma terceira década deste século melhor que as duas anteriores. As medidas clássicas para combater a inflação geralmente são a redução nos gastos públicos, elevação da arrecadação, diminuição do déficit fiscal, elevação da taxa de juros para reduzir os gastos privados, ao lado de medidas para estimular o aumento do produto nacional.
A inflação é uma doença que empobrece a nação, piora os indicadores sociais e age contra o crescimento econômico e o desenvolvimento social. Mais que se insinuar com taxas maiores de elevação de preços, a inflação assombra pelo poder destrutivo já constatado em vários países em diferentes momentos da história. Por isso, sociedade e governo não podem desdenhar desse mal econômico, mesmo que tenha sido consequência de uma pandemia que está entre as mais complicadas de toda a história das nações. É importante prestar atenção constante na evolução dos preços, procurar entender a inflação e dedicar esforço nacional para combater o mal antes que ele cresça. Como é um mal que não morre, apenas fica adormecido quando o país vai bem, e conhecendo o histórico brasileiro de sofrimento com taxas elevadas de inflação, é melhor cuidar do problema logo no início.
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