| Foto: Antonio Costa/Arquivo Gazeta do Povo

A cooperação estabelecida entre as equipes de Michel Temer e Jair Bolsonaro para a transição na administração federal já rendeu um bom fruto: os editais para a concessão de 12 aeroportos, quatro portos e uma ferrovia serão publicados no dia 29 de novembro, possibilitando que os leilões ocorram em março do ano que vem. O Ministério dos Transportes confirmou que a fase final de elaboração dos editais foi acompanhada pela equipe de transição montada por Bolsonaro, que não colocou nenhum reparo aos termos definidos pelo atual governo.

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Os valores envolvidos nas concessões não chegam a ser vultosos – o lance mínimo para os 1,5 mil quilômetros da Ferrovia Norte-Sul entre São Paulo e Tocantins é de R$ 1,2 bilhão; as outorgas dos 12 aeroportos, somadas, partem de R$ 208 milhões; os valores de outorga dos portos não foram divulgados, mas em leilões anteriores foram fixados na quantia simbólica de R$ 1. Em comparação, o megaleilão de petróleo previsto para 2019 poderia despejar até R$ 100 bilhões nos cofres da União. Mas o pacote de infraestrutura que Temer deixará para Bolsonaro é significativo por uma série de fatores.

O Estado não tem condições de manter e expandir a infraestrutura de transporte

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É inegável que a infraestrutura de transporte representa, hoje, um enorme gargalo para o setor produtivo nacional e para outros setores importantes, como o turismo. O estado precário de diversas rodovias e ferrovias encarece o escoamento da produção nacional, e o transporte aéreo, essencial em um país com as dimensões do Brasil, está muito aquém de seu potencial. A greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, mostrou as consequências desastrosas da hiperdependência do modal rodoviário. O Estado não tem condições de manter e expandir a infraestrutura de transporte – e, ainda que os cofres estivessem cheios em Brasília, este é o tipo de atividade em que a iniciativa privada tem todas as condições de participar, e na qual o Estado age em caráter subsidiário, atuando apenas diante da impossibilidade ou do desinteresse dos demais agentes.

A licitação, além disso, não deixará de ser um teste para o ideário liberal defendido por Bolsonaro e o chefe de sua equipe econômica, Paulo Guedes. O futuro Ministério da Economia terá, inclusive, uma Secretaria de Privatizações para cuidar exclusivamente de processos como este. A capacidade de atrair interessados de peso nos leilões de concessão será um indicador do quanto os grandes players no setor de infraestrutura levam a sério a intenção brasileira de buscar maior inserção internacional. No ramo aeroportuário, por exemplo, a experiência de 2012, com os leilões de Brasília, Guarulhos e Viracopos, foi no mínimo frustrante; mas, no ano seguinte, pesos-pesados mundiais, como as operadoras dos aeroportos de Cingapura e Zurique, arremataram Galeão e Confins, respectivamente; os consórcios perdedores ainda contavam com as operadoras dos aeroportos de Frankfurt e Amsterdam.

Leia também: O desafio da infraestrutura (editorial de 21 de outubro de 2018)

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O pacote que Temer deixa pronto para Bolsonaro, no entanto, tem de ser apenas o começo. Milhares de quilômetros de rodovias e ferrovias aguardam investimentos urgentes em sua melhoria e ampliação. Estradas que cortam o país, por exemplo, continuam a ter pista simples, quando já deveriam ter sido integralmente duplicadas há muito tempo. Algumas dessas rodovias chegaram a ser concedidas, mas acabaram devolvidas, caso da BR-040, o principal corredor rodoviário entre as regiões Sudeste e Centro-Oeste, e cujo trecho entre Brasília e Juiz de Fora (MG) ainda terá de ser relicitado. A teimosia ideológica dos governos petistas, para quem o Estado deveria ser o grande motor do desenvolvimento econômico, prejudicou o desenvolvimento de nossa infraestrutura; agora é hora de tirar o atraso.

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