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 | Foto: Jabin Botsford/Washington Post
| Foto: Foto: Jabin Botsford/Washington Post

Em meio a uma escalada protecionista, o anúncio de um “cessar-fogo” entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, é um alívio passageiro para a economia mundial. Passageiro, porque não se sabe quanto tempo durará a trégua, e nem o que virá depois dela. Se as intenções anunciadas por ambos efetivamente se concretizarem, os benefícios para o comércio mundial serão enormes – e mostrarão o quanto o Brasil ainda precisa melhorar se quiser deixar de ser uma das economias relevantes mais fechadas do mundo quando o assunto é comércio exterior.

Segundo os termos do acordo estabelecido entre Trump e Juncker, a União Europeia comprará mais soja e gás natural liquefeito dos EUA, um movimento que deve reduzir a dependência europeia do gás russo e que ajuda a encontrar compradores para a oleaginosa, um dos produtos que a China escolheu para retaliar os Estados Unidos em sua escalada protecionista. Além disso, EUA e UE trabalharão para zerar todas as tarifas, barreiras e subsídios sobre itens industriais não automotivos – e os norte-americanos não levarão a cabo a ameaça de taxar em 25% os automóveis e autopeças provenientes da Europa. Por fim, enquanto durarem as negociações sobre as tarifas impostas por Trump sobre o aço e o alumínio estrangeiros, não haverá novas elevações de alíquotas.

O Brasil passou décadas agarrado a um protecionismo que nos atrasou tecnologicamente e economicamente

Juncker não escapou de críticas de colegas europeus, já que basicamente o que ele conseguiu de imediato é a não imposição de novas tarifas, enquanto as atuais taxas, especialmente as sobre aço e alumínio, continuam em vigor. Já os Estados Unidos saíram da reunião com resultados bem mais concretos, encontrando compradores para a soja e o gás natural. Para muitos europeus, as maiores concessões deveriam ter partido do norte-americano, já que foi ele quem deu início à escalada recente nas disputas comerciais. As críticas só serão amenizadas se, de fato, as negociações levarem à tarifa zero sobre diversos bens – e, mesmo assim, haverá quem declare Trump como vencedor, elogiando o que seria sua estratégia de “colocar o bode na sala”: impor tarifas para forçar os parceiros (ou adversários) a se sentar à mesa para conversar sobre livre comércio. Mas nem mesmo o elogiável objetivo de um mundo menos protecionista justifica que Trump provoque o caos no comércio exterior apenas para ver dele emergir uma nova ordem.

Independentemente do que passa na cabeça de Trump, é inegável que o Brasil precisa se preparar para todos os cenários – inclusive o de uma ampla redução de tarifas entre Estados Unidos e União Europeia. O país passou décadas agarrado a um protecionismo que nos atrasou tecnologicamente e economicamente, seja por opção própria, como no caso da Lei de Informática, seja amarrado pelos parceiros do Mercosul. Agora, tem de correr para recuperar o tempo e o espaço perdidos. Felizmente, a diplomacia brasileira tem se empenhado em deixar um terreno mais fértil para quem assumir o Planalto em 2019.

Leia também: O Mercosul e o comércio exterior (editorial de 20 de março de 2018)

Leia também: Rumores de guerra comercial já não são mais exagerados (artigo de Paulo Roberto de Almeida, publicado em 18 de junho de 2018)

Com a saída dos governos de esquerda no Brasil e na Argentina, os dois principais membros do Mercosul, o bloco passou a se mexer para deixar de ser um clubinho bolivariano e cumprir sua missão de fomentar o livre comércio. Em encontro recente no México, o Mercosul aprofundou suas relações com a Aliança do Pacífico, grupo formado por Chile, Peru, Colômbia e México e que se beneficia de uma integração econômica bem mais sólida. Além disso, o presidente Michel Temer afirmou, em reunião dos Brics na África do Sul, que o esperado acordo com a União Europeia poderia ser assinado já em setembro – um anúncio que deve ser visto com cautela, já que promessas anteriores não deram em nada, e porque é preciso saber se os europeus estarão dispostos a renunciar aos generosos subsídios que oferecem aos agricultores.

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