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Editorial

A Venezuela entre a esperança e a guerra

Juan Guaidó e Leopoldo Lopez discursando para multidão em Caracas, nesta terça-feira (30/04).
Juan Guaidó e Leopoldo Lopez discursando para multidão em Caracas, nesta terça-feira (30/04). Foto: Cristian Hernandez/AFP (Foto: AFP)

A Venezuela despertou cedo na manhã de terça-feira (30). O presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, anunciou às 5:46 horas (horário local) desde a base militar aérea La Carlota, em Caracas, que conta com o apoio das "principais unidades militares das nossas Forças Armadas".

A mensagem foi enviada pelo Twitter oficial de Guaidó, e contava com a presença de vários militares e também Leopoldo Lopez, que até então estava em prisão domiciliar. Lopez foi liberado por funcionários da Guarda Nacional Bolivariana, na madrugada dessa terça-feira. Ele foi durante muito tempo um dos principais líderes da oposição ao regime do ditador Nicolás Maduro, e fora preso em situação bastante estranha em que os indícios da prisão teriam sido plantados pela própria polícia.

Tanto López como Guaidó detêm forte apoio popular. E a união das duas principais figuras da oposição a Maduro dá ao povo venezuelano, que está há muito tempo carente de itens essenciais, uma nova esperança.

O apoio das forças armadas venezuelanas ao presidente interino, ou ao menos de parte dela, era algo muito esperado por toda comunidade internacional para que a ditadura de Nicolás Maduro pudesse de uma vez por todas cair. Guaidó é considerado presidente da Venezuela por grande maioria dos países democráticos, desde 23 de janeiro deste ano, por conta de fortes indícios de fraude eleitoral no pleito que elegeu Maduro.

Uma interferência externa poderia agravar a situação do país terrivelmente

Ainda não é possível saber qual o tamanho exato da parcela das forças armadas que apoia Guaidó, mas isso indica que sua estratégia está aos poucos tendo êxito, e mostra também quão desmoralizado está Maduro perante seu povo e seus comandados.

Entretanto, a ditadura bolivariana reagiu ao anúncio de Guaidó com o expediente que lhe é característico: com o uso da força. Cenas terríveis foram vistas em Caracas, com tanques avançando sobre a multidão de cidadãos venezuelanos que protestavam contra Maduro; com soldados agora fiéis a Guaidó atirando contra as forças armadas fiéis ao ditador. O risco de uma guerra civil na Venezuela é iminente.

Contudo, para esta quarta-feira, Dia do Trabalhador, Guaidó pediu ao povo Venezuelano que vá às ruas em massa para pedir o fim da usurpação de Maduro. Espera-se com isso que o ditador perca o resto de respaldo que ainda tem perante seus subordinados.

O Brasil também está bastante atento às movimentações no país vizinho. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou, após reunião com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, que: “Precisamos ser prudentes porque, desde janeiro, temos a expectativa de que o processo de transição democrática se complemente e aconteça a partir da ascensão do presidente Guaidó.”

O ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, afirmou que o apoio de Guaidó entre as forças armadas restringe-se aos escalões mais baixos e que a força militar que o presidente interino reuniu não era tão grande quanto se imaginava no início. Para o ministro "não há uma expectativa de solução no curto prazo".

Os dois estavam presentes na reunião de emergência no Palácio do Planalto, convocada pelo presidente Jair Bolsonaro, para discutir a situação venezuelana. Participaram ainda da reunião o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva.

O Brasil não tem intenção de intervir militarmente na Venezuela, mas acompanha a situação com apreensão e com disposição em oferecer ajuda humanitária à população.

Uma interferência externa poderia agravar a situação do país terrivelmente, pois o ditador Nicolás Maduro conta com o apoio da Rússia, enquanto Juan Guaidó, com o apoio dos EUA. Há um risco muito grande de revivermos as famigeradas proxy wars, as guerras por procuração promovidas pelas duas potências no período da Guerra Fria.

A comunidade internacional aguarda ansiosamente que a Venezuela possa resolver o seu conflito internamente e retornar à normalidade democrática. Porém, há um complicado jogo de xadrez sendo disputado no país vizinho e será necessário muita prudência para que o conflito possa ser levado a bom termo. Oxalá, sem que haja um banho de sangue.

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