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Enquanto se multiplicam os protestos de agricultores que reclamam apoio substancial para enfrentar a pior crise do setor rural nos últimos 25 anos, a indústria de móveis se soma a outras áreas afetadas pela questão cambial, como setor automotivo, madeiras e calçados. Como resultado, a conjuntura da economia passou a apresentar sinal negativo – sobretudo em estados mais atingidos pela estiagem como o Paraná e Rio Grande do Sul. Enfrentar esse conjunto de problemas exige atenção do governo e da sociedade, sob pena de abortarmos o crescimento do Brasil.

Durante palestra na Federação das Indústrias do Paraná, o empresário Paulo Aguiar Cunha apontou duas razões para esse dilema: os países que cresceram no último século tinham câmbio alto e juro baixo, ao contrário do país. Ainda, enquanto a média dos países emergentes tem uma carga tributária de 20%, a do Brasil chegou a 40%. Essa equação descompensada bloqueia a retomada do crescimento e do emprego no país.

Como efeito, após crescer à taxa de 4,3% no período de recuperação mundial (entre 1950 e 80), o Brasil avançou apenas 1,3% nos 25 anos seguintes (até 2004), caindo para metade da média global. O problema persiste porque o governo Lula pode ter impulsionado um modelo de distribuição de renda, mas não consolidou um modelo de produção.

Mas esse é um padrão de economia de escassez – como advertiu o ex-ministro e diplomata Rubens Ricúpero – em que nos contentamos com baixos volumes físicos e qualquer demonstração de melhoria da demanda dos consumidores tende a elevar preços e realimentar a inflação. Essa é a justificativa para a manutenção dos juros básicos com a mais alta taxa do mundo, reproduzindo o ciclo.

Ainda agora, em decorrência de vários fatores, a safra em fase de colheita poderá ficar pouco acima de 100 milhões de toneladas, quando nosso potencial em território cultivável poderia nos levar facilmente a 200 milhões e 250 milhões de toneladas de grãos. De forma igual, a produção industrial é travada e suas repercussões no segmento de serviços, inovação técnica e produtividade se mostram medíocres – contidos todos pelas travas do juro alto, carga tributária elevada e baixa eficiência da economia.

Esse desafio afeta outros países retardatários, que, embora operando com menos desempenho, são chamados a suportar um arsenal de custos igual ao da parcela enriquecida da humanidade. Mas enquanto os países ricos podem desfrutar um modelo de "bem-estar", tais encargos sociais e legislação protetora são custosos para o Brasil, reduzindo nossa capacidade de competir com outros produtores como os asiáticos.

Essa acumulação de problemas levou um importante dirigente do Paraná a declarar que reduziu os negócios porque "hoje o empresário está pagando para produzir". Reverter esse cenário, removendo as causas que bloqueiam a produção, e estimular os empreendedores é o desafio central da nossa sociedade, se quisermos de fato progredir.

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