Riscos e oportunidades se abrem com a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados. Maia assume sob suspeita de participar do esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato, o que pode se tornar um grave problema para a condução dos trabalhos da casa – podendo, inclusive, impedir o fim da crise política. Ao mesmo tempo, paira sobre ele a expectativa de que trabalhe em sinergia com o governo para tirar o país da crise. Esses dois aspectos, e como o parlamentar irá lidar com eles, devem pautar o tom do mandato-tampão que irá até fevereiro do próximo ano.
Maia é citado em mensagens de texto dos celulares de Marcelo Odebrecht e de Léo Pinheiro, da OAS, o que levou a Procuradoria-Geral da República a pedir ao STF a abertura de inquérito para investigar crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Caso o Supremo aceite o pedido e o Ministério Público Federal avance nas investigações, a situação de Maia na presidência da Câmara pode se desestabilizar da mesma forma como aconteceu com seu antecessor, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O novo presidente da Câmara não pode fazer jogo duplo em temas como o ajuste econômico
É daí que viria o problema. Se o deputado preferir concentrar seus esforços na defesa de interesses pessoais, tentando, ainda que nos bastidores, desidratar a Lava Jato, corre o risco de sofrer uma queda igual à de Cunha, cujo processo de cassação está em andamento.
No entanto, se Maia focar sua ação na pauta de reformas urgentes, necessárias e fundamentais de que o país precisa, o novo presidente da Câmara pode ter papel decisivo para colaborar com o governo interino na árdua tarefa de tirar o Brasil do atoleiro. Há uma confiança inicial de que Maia pode ser bem-sucedido nessa tarefa. Sua vitória foi bem recebida pelo mercado, até porque seu partido, o Democratas, é defensor da ortodoxia econômica.
Mas esse otimismo não vai durar se medidas concretas não forem aprovadas pela Câmara nos próximos meses. O novo presidente não pode fazer jogo duplo em temas como ajuste econômico, aumento de despesas públicas e reforma previdenciária. São questões de fundamental importância e merecem ser tratadas com a correspondente responsabilidade.
Ao se examinar os resultados da eleição de quarta-feira, a conjuntura política parece ser auspiciosa para que Maia leve a cabo essa tarefa. A derrota de Rogério Rosso (PSD-DF) no segundo turno, por 285 a 170 votos, mostra que a influência de Cunha no andamento dos trabalhos da Câmara dos Deputados tem seus dias contados. O “centrão”, bloco que reúne partidos pequenos e médios e agrega boa parte do “baixo clero”, está fragmentado – seus candidatos, somados, conseguiram quase metade dos votos do primeiro turno, o que seria um trunfo para Rosso, mas algumas legendas migraram para o apoio a Maia – e terá dificuldades em se recompor, agora que Cunha teve grande parte do seu poder esvaziado.
Outra derrota que deve ser vista com alívio é a da ala dilmista, representada na disputa de quarta-feira pelo peemedebista Marcelo Castro. O ex-ministro da Saúde, lançado pelo PT e pela parte do PMDB fiel a Dilma Rousseff, não chegou ao segundo turno, dinamitando qualquer possibilidade de repetir a situação que vigorou com Dilma e Cunha, a de um presidente da Câmara abertamente hostil ao Planalto. Restou a parte da esquerda engolir o orgulho e votar em um adversário ideológico – mais que isso: em um “golpista” – para barrar as pretensões de Rosso, apoio que Maia reconheceu após a vitória.
Todos esses fatos, em conjunto, apontam para uma possível união de esforços em torno de um projeto de recuperação nacional. Para tanto, é crucial neste momento que Maia seja coerente com o discurso que realizou após o resultado da eleição da Câmara, quando disse que iria trabalhar para a pacificação do plenário, estabelecendo um diálogo com a maioria e a minoria da Casa. A crise política já dura tempo demais, com resultados devastadores na economia brasileira. E, apesar de o governo ter escalado uma equipe exemplar na área técnica, até o momento nenhum projeto fundamental foi votado. Mais que palavras, Maia precisa demonstrar com ações que está à altura do cargo para o qual foi eleito.
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