O Paraná já teve outras eleições para governador decididas logo no primeiro turno, mas o deputado estadual Ratinho Junior conseguiu a maior votação entre todos os que se elegeram sem a necessidade de um segundo turno, com 60% dos votos válidos. O fato de ter sido secretário de Estado nos dois mandatos do ex-governador Beto Richa, rejeitado nas urnas após a divulgação de escândalos de corrupção que o levaram a ficar preso por alguns dias, não afetou o desempenho do candidato do PSD, até porque a principal adversária, a governadora Cida Borghetti, também estava ligada a Richa, tendo formado com ele a chapa vencedora em 2014. A votação obtida por Ratinho Junior neste 7 de outubro é reflexo de uma grande expectativa, mas são vários os desafios que ele terá de enfrentar.
O eleito e sua equipe têm esses próximos dois meses e meio para se inteirar da situação do estado – algo com que Ratinho Junior, por ter integrado o governo até setembro de 2017, está ao menos em parte familiarizado. Com todas as informações em mãos, não há desculpa para que o próximo governador não inicie, ao lado de seus colaboradores e com o aval da sociedade paranaense, um planejamento de longo prazo para o estado, que determine quais são os objetivos escolhidos, onde o Paraná quer estar não daqui a quatro anos, mas daqui a duas ou três décadas, com as linhas-mestras para atingir essa meta. E, a partir daí, as ações de governo precisam estar alinhadas com esse planejamento, e não com as conveniências políticas do momento.
A equipe do governador tem de ser competente do ponto de vista técnico, mas também confiável do ponto de vista ético
A escolha de objetivos de longo prazo ajudará, inclusive, o próximo governo a tomar decisões delicadas que precisarão partir do Palácio Iguaçu em um futuro bem próximo. Duas controvérsias que exigem a busca do difícil equilíbrio entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico envolvem a redução da área de preservação da Escarpa Devoniana, no interior, e a construção da Faixa de Infraestrutura, no Litoral do estado.
E o tema da infraestrutura nos traz à memória outro gargalo importante do Paraná, e que precisa ser resolvido em breve: a precariedade da ligação ferroviária com o Porto de Paranaguá e a perda de competitividade que resulta da cobrança, no Anel de Integração, de tarifas de pedágio que estão entre as mais altas do país. As recentes denúncias de corrupção envolvendo os aditivos nos contratos de concessão das rodovias não podem servir de pretexto para soluções imediatistas e imprudentes que apenas piorem a confusão; como os contratos atuais expiram em 2021, mais importante é iniciar desde já os estudos para realizar uma licitação que aproveite todas as melhores experiências que o país tem acumulado na administração de rodovias, para que as tarifas sejam justas e as obras – especialmente as duplicações – sejam realizadas sem demora. E a nova ferrovia até Paranaguá é demanda antiga cujos benefícios já estão mais que comprovados, mas que insiste em não sair do papel, ainda que neste caso a omissão seja compartilhada também com o governo federal.
Para dar conta dos desafios, é fundamental que o próximo governador busque uma equipe que seja não apenas competente do ponto de vista técnico, mas também confiável do ponto de vista ético. O recente noticiário político-policial do Paraná mostra os efeitos nefastos da insistência de um governante em manter junto de si figuras desqualificadas, suspeitas, e até mesmo réus confessos de escândalos de corrupção. Ainda que Ratinho Jr. tenha feito parte do secretariado de Beto Richa, sua eleição representa a ascensão de um novo grupo político, mas isso não pode representar simplesmente uma troca de seis por meia dúzia: é a oportunidade de montar uma equipe com pessoas qualificadas e que não repitam velhos vícios.
À medida que o secretariado for anunciado e, depois da posse, as primeiras ações de governo vierem a público, o Paraná terá mais condições de avaliar se as expectativas criadas em torno de Ratinho Jr., a ponto de lhe darem uma vitória tranquila no primeiro turno, se confirmarão ao longo dos próximos quatro anos. Os paranaenses esperam que ele faça um bom governo, enfrentando os desafios apresentados e lançando as bases para que o estado viva um novo período de desenvolvimento consistente e duradouro.