Passados apenas cinco meses de sua saída do Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta ao primeiro plano da cena política nacional. Um retorno, diga-se de passagem, ao seu melhor estilo, tal qual o herói dos filmes de aventura que no último instante chega para salvar a mocinha em perigo, no caso a presidente Dilma Rousseff. Com o governo fazendo água devida à crise política motivada pelas revelações da, no mínimo, surpreendente capacidade do ministro Antonio Palocci enriquecer em quatro anos – apenas em 2010 sua empresa de consultoria teria amealhado R$ 20 milhões – a saída foi pedir socorro a Lula.

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Certamente no momento não é a melhor opção para Dilma, muito embora aparentemente não restasse outro caminho para contornar o impasse com a base aliada. Com apenas cinco meses no comando do país, ela ainda busca imprimir uma marca própria em sua gestão, sepultando de vez as dúvidas suscitadas antes da eleição sobre sua capacidade de administrar sem a tutela direta de seu antecessor e padrinho. E Lula, que chega para ocupar o que se convencionou chamar de "vazio político", já transmitiu a Dilma e Palocci as insatisfações dos parlamentares da situação. Descontentamento, segundo ele, decorrente do distanciamento mantido pelo governo em relação aos seus representantes na Câmara e no Senado e que caminhava para se transformar em rebeldia nas votações em plenário. O perigo mais iminente é a possibilidade da convocação de uma CPI para investigar o ministro e dublê de consultor milionário Antonio Palocci, hipótese totalmente rechaçada pelo governo. Para evitar qualquer risco de a CPI vir a se concretizar, a estratégia recomendada pelo ex-presidente e, agora, coordenador político, é a mesma da adotada nos últimos oito anos de administração petista: atender a companheirada com os cargos ainda em disputa no segundo escalão, além da abertura de canais de acesso direto para os parlamentares aliados no Palácio do Planalto. Os sinais de agrados não demoraram a aparecer, o primeiro deles com a suspensão da distribuição do chamado kit anti-homofobia. Elaborado pelo MEC, o material já estava pronto para ser distribuído nas escolas do país, o que vinha desagradando às bancadas de católicos e evangélicos na Câmara e no Senado. Outra providência já acatada é a abertura de mais espaço semanal na agenda presidencial para audiências com os congressistas.

Com esses acenos e mais a presença de Lula na articulação, o governo espera que o horizonte político de Brasília afinal comece a desanuviar. A dúvida que fica é o custo futuro dessas concessões. Afinal, é por demais conhecido o apetite dos ocupantes do Congresso pela barganha para a obtenção de vantagens e benesses, ainda que para isso seja necessário empurrar o governo para as cordas. Um exemplo está na possibilidade de novas pressões de deputados e senadores para o fim da suspensão no pagamento de obras e projetos decorrentes de emendas parlamentares já incluídas no orçamento federal. A vontade do Planalto de pôr em discussão a reforma tributária para acabar com a guerra fiscal entre estados é outro desafio para o qual o apoio aliado será vital para a sua aprovação.

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