No setor privado, o dado mais grave da crise é o desemprego – que atinge 12 milhões de pessoas. No setor público, é a explosão dos déficits financeiros dos municípios, dos estados e da União, e o consequente crescimento da dívida do governo. Todos os indicadores da crise derivam de um só problema: a forte queda do Produto Interno Bruto (PIB), que acumula redução entre 9% e 10% nos últimos três anos. Ainda que outros fatores sejam importantes para a saída da recessão, a superação da crise depende essencialmente do retorno do crescimento do PIB.
O Ministério da Fazenda, em revisão feita no mês de agosto, alterou a projeção de queda do PIB para 2016, e passou a prever que será de 3%. Ao mesmo tempo, a projeção de crescimento em 2017 foi alterada de 1,2% para 1,6%. O governo reviu, também, a previsão de inflação e estima o IPCA do ano que vem em 4,8%, levemente acima da meta oficial de 4,5%. O crescimento de 1,6% não é robusto nem suficiente para repor o país no patamar de fim de 2013, mas é uma reversão da curva recessiva e o começo da recuperação do PIB, do nível de emprego e das receitas tributárias.
A disposição dos investidores privados nacionais e estrangeiros depende da confiança na estabilidade
Uma questão nesse panorama é saber se os investimentos em infraestrutura e novos negócios empresariais serão aumentados, e como se comportarão os investidores privados nacionais e estrangeiros. Para conseguir crescimento regular, ainda que a taxas baixas, é preciso haver recuperação dos investimentos em infraestrutura física – que é basicamente estatal – e retomada dos investimentos privados a taxas maiores do que vem ocorrendo nos últimos anos.
A disposição dos investidores privados nacionais e estrangeiros depende da confiança na estabilidade política, na recuperação da economia, na melhoria da legislação tributária e na estabilidade da moeda. Sem isso, a previsibilidade nos negócios fica prejudicada e aumentam as incertezas, fatores que assustam os investidores. Para acelerar a recuperação, é necessário que a taxa de investimento como proporção do PIB alcance 22%, sem o que a infraestrutura física e a expansão empresarial não serão suficientes para lançar a economia rumo ao crescimento sustentado e à melhoria da renda por habitante.
O país tem vários problemas pela frente e um dos mais importantes é a melhoria no direcionamento do gasto público. Há quase duas décadas, o governo nos três níveis vem elevando sistematicamente os gastos com pessoal e custeio da máquina estatal, em detrimento dos investimentos, como se nota pela deterioração da infraestrutura física e social. A prática de aumentar o quadro de servidores, conceder reajustes generosos e dar aumentos salariais enquanto o setor privado mergulha em recessão e milhões de brasileiros perdem os empregos é algo politicamente inaceitável, além de piorar a distribuição da renda nacional.
A previsão do governo de que o crescimento retornará em 2017 é compartilhada por analistas nacionais e estrangeiros, apesar de muitos fazerem a ressalva de que a recuperação somente se consolidará se o Brasil parar de adiar os ajustes fiscais e as reformas estruturais, por mais duras que sejam, como é caso das reformas tributária, previdenciária e da trabalhista. Entretanto, e apesar do resultado da primeira votação da PEC do Teto, na segunda-feira, nenhuma reforma andará no Congresso Nacional se o sistema político não superar suas crises e os problemas que travam as discussões sobre questões polêmicas e de difícil solução. Para vencer a crise, o governo deve ser capaz de levar adiante medidas duras e impopulares.
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