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Abortismo e controle da linguagem
| Foto: Bigstock

No clássico 1984, George Orwell descreve uma prática do governo distópico hiperautoritário para restringir a linguagem e o pensamento da população. Termos considerados “perigosos” pelo governo eram simplesmente removidos, numa tentativa de limitar a capacidade de pensamento – e com isso criar um povo muito mais propenso a aceitar o jugo do governo sem questionamentos inconvenientes. Embora fictício, o enredo de 1984, infelizmente, parece estar cada vez mais perto de ser colocado em prática. Além dos governos e tribunais superiores que insistem em tentar limitar a livre expressão de ideias, militantes de diversos setores optam por levar suas bandeiras ideológicas para a esfera da linguagem e impor termos que tornem certas práticas mais aceitáveis ou condenáveis, dependendo do objetivo que se queira alcançar.

Exemplo recente deste esforço é uma cartilha para orientar a produção de matérias jornalísticas sobre o aborto. Partindo da tese de que o aborto não pode ser considerado como um “estigma”, grupos feministas lançaram um guia de “Boas práticas de cobertura feminista sobre aborto no Brasil”. O material tenta convencer os jornalistas a abordar a eliminação de um ser humano não nascido como se não fosse um crime. Para isso, o material orienta que os jornalistas, entre outras coisas, evitem usar imagens e vídeos que mostrem o feto ou remetam ao luto – como se o bebê em formação não fosse um ser humano e sua morte não gerasse a dor da perda. Em outras palavras, o objetivo é o de desumanizar o nascituro para que sua eliminação seja melhor aceita pela sociedade, e “apagar as evidências” do que o aborto realmente é.

A sociedade tem todo o direito de conhecer e debater as implicações éticas e morais dessa prática, bem como as consequências nefastas.

O documento também ensina a selecionar quais fontes serão entrevistadas, evitando o uso de autoridades, e sugere o uso de “casos de criminalização para construir contranarrativas”. Em vez, por exemplo, de escrever “Polícia prende mulher que fez aborto caseiro”, o jornalista deveria usar “Após quebra de sigilo médico, paciente é criminalizada”, distorcendo a realidade. Como bem explicou a presidente do Movimento Brasil Sem Aborto, Lenise Garcia, à reportagem da Gazeta do Povo, a ideia principal de toda a cartilha é simplesmente esconder a realidade, e dar espaço à narrativa enviesada usada pelos grupos abortistas para justificar a prática.

O uso de eufemismos que tentam relativizar a natureza do aborto é uma estratégia antiga. Termos como “direitos sexuais e reprodutivos” e o tratamento do aborto como mera questão de “saúde pública” são comuns nos discursos abortistas, inclusive os patrocinados pelo governo Lula, que desde o início do mandato tem buscado afrouxar ao máximo a atual legislação sobre o assunto. Não contentes em levar essa distorção da linguagem para documentos oficiais e normas técnicas do governo, os militantes buscam também controlar a produção jornalística sobre o aborto para manipular ainda mais as discussões, impedindo uma representação honesta do que está em jogo e de suas consequências para as mulheres e para a sociedade.

O acesso a informações e posicionamentos honestos, que não escamoteiem a realidade nem se dobrem aos discursos ditos “progressistas” ou politicamente corretos, é essencial para o debate público sobre qualquer assunto, inclusive sobre o aborto. Só assim a população pode reconhecer os riscos e consequências de uma eventual legalização – desejo supremo dos grupos abortistas e integrantes do governo federal. Para fazer com que a sociedade simplesmente acate sem resistência o que os militantes pró-aborto dizem, eles querem promover o esquecimento do que é realmente o aborto, que passa a ser apenas defendido como expressão da autonomia da mulher, mas na verdade consiste no assassinato de um ser humano em formação. Por isso, é preciso colonizar (ainda mais) os meios jornalísticos, “indicando” como deve ser a cobertura sobre o assunto.

No entanto, a sociedade tem todo o direito de conhecer e debater as implicações éticas e morais dessa prática, bem como as consequências nefastas, físicas e psicológicas, para as mães que abortam. Sem linguagem distorcida, sem manipulação de fontes, sem tentativas de “sanitizar”, pela escolha deliberada de imagens e palavras, o que é uma crueldade contra os mais indefesos e inocentes dos seres humanos.

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