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Os antigos romanos dedicavam o mês corrente ao deus Janus, aquele que apresentava duas faces: a primeira, segundo alguns, olhando o passado; a outra, encarando o futuro. Essa alegoria permite utilizar o mês de janeiro para a análise dos dados de desempenho do Brasil no ano que passou, base para a elaboração de previsões sobre o exercício que começa. Nesses termos, cabe avaliar que, apesar de erros cometidos em 2005, há esperanças porque eles não solaparam os fundamentos da economia.

É que, apesar de sua raiz na esquerda, o governo Lula resistiu a três tentações populistas usuais entre governantes da América Latina: o descontrole do orçamento, a emissão inflacionária de moeda e o controle autoritário das tarifas e dos preços. Tais padrões típicos do populismo "atrasaram a região em algumas décadas" – registra o ex-ministro Maílson da Nóbrega – expondo muito sobre a imaturidade institucional de nossos povos.

Não obstante, os analistas apontam como erros essenciais na gestão econômica, a manutenção da política monetária de juros altos, a elevação da carga tributária, o câmbio valorizado e a paralisação das reformas estruturais. No primeiro aspecto, com o nível elevado de juros, só é possível abrir um negócio que renda mais de 13% em termos reais ao ano – afirma o consultor de economia Carlos Arthur Kruger Passos – o que inibe a expansão econômica.

A elevação da carga tributária decorreu da introdução da tributação por PIS/Cofins sobre importações sem reduzir o IPI sobre esses bens; mantidas as duas taxações, a carga aumentou no correr do ano. Já o irrealismo de um câmbio artificialmente elevado inibiu investimentos, desorganizou a exportação (que tende a se concentrar em commodities e frear a venda de bens com maior valor agregado) e afeta a economia interna ao estimular a especulação financeira e importação de bens de consumo. Por fim, a ausência de reformas levou à centralização político-administrativa, reestatização (retomada de áreas produtivas por estatais) e desestímulo aos agentes privados.

Quanto a 2006, para o líder empresarial Antônio Ermírio de Morais – colaborador desta Gazeta do Povo – o crescimento brasileiro infelizmente também ficará aquém das possibilidades, porque chegamos ao limite com a precariedade de nossa infra-estrutura e o quadro social deteriorado"; "desequilíbrios que não podem mais ser compensados com juros e tributos escorchantes".

O professor Belmiro Castor, do mestrado da Unifae em Curitiba, acrescenta que o ano de eleições gera a oportunidade de "aprendermos com os equívocos passados, não desperdiçando as oportunidades à nossa frente". Para o membro da Academia Paranaense de Letras, "se fizermos isso teremos conseguido um avanço histórico: o de nos livrarmos da sensação de que o mundo conspira contra nós e que nossos problemas se devem à maldade dos países ricos". Então, assinala Castor, "teremos saído da puberdade institucional para entrar na maturidade".

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