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O presidente interino Michel Temer felizmente agiu rápido e, numa reunião com seu ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), acertou o “licenciamento” do peemedebista até que o Ministério Público Federal esclareça o conteúdo das gravações reveladas ontem. Nos bastidores do Planalto, já é dado como certo que Jucá não volta a chefiar a pasta e que a história da licença provisória não passou de um jogo de cena, uma tentativa de “saída honrosa” para o peemedebista, que será exonerado do cargo e voltará ao Senado. Com essa decisão, Temer evita que o episódio acabe por contaminar a sua gestão de modo irreversível.

Gravações de conversas de Jucá com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, feitas em março, deixam claro que Jucá arquitetava firmar um pacto sinistro para “estancar a sangria” decorrente da Operação Lava Jato. Se Jucá permanecesse na chefia do ministério, Temer estaria contradizendo tudo o que afirmou em seu discurso de posse sobre o apoio incondicional e a importância da operação, o que minaria muito sua credibilidade.

Jucá e suas intenções foram a munição que os oposicionistas tanto desejavam para obstruir a nova meta fiscal

Eleito com os mesmos votos de Dilma, a legitimidade de Temer no comando do país é indiscutível. Compreende-se, também, as tentativas de o presidente conciliar interesses para formar uma base forte de apoio no Congresso Nacional, que lhe permita aprovar as urgentes reformas de que o Brasil precisa. Mas essas negociações têm limites. Ao trazer Jucá no ministério, apesar de investigado na Lava Jato, Temer arriscou o capital político que vem construindo. E certamente ele compreende que um eventual retorno de Jucá ao governo só lhe trará desgaste desnecessário neste momento delicado de crise política e econômica.

Ainda que se saiba que o governo de Temer tem sua origem no mesmo meio em que o anterior foi gestado e, portanto, padeça dos mesmos vícios, a sociedade manifesta a expectativa de que ele possa conduzir um projeto de recuperação nacional. Mas para que isso se torne viável, o presidente precisa construir sua credibilidade diante dos problemas que surgem a cada dia. E na medida em que cede espaço a grandes representantes do fisiologismo nacional, às velhas raposas da política brasileira, o presidente faz o oposto do que se esperava.

Foi assim na montagem do ministério, em que deixou a ideia inicial de compor um quadro de notáveis, para escalar um time de políticos com representação no Congresso Nacional. Da mesma forma, cedeu ao “Centrão” e aceitou como seu líder na Câmara dos Deputados um nome ligado a ninguém menos que Eduardo Cunha – André Moura (PSC-PE), cuja ficha corrida, se fosse levada em conta, jamais permitiria tal indicação. Essas atitudes em nada contribuem para que o presidente conquiste a confiança da sociedade e para que desfrute de garantias de que irá conseguir levar a cabo o projeto de reconstrução de um país que foi devastado pela incompetência administrativa, pela corrupção desmedida, pela falta de diálogo.

É por isso que não deixa de ser um alento a saída “provisória” de Jucá. O que, entretanto, não significa que não gere desgaste e que o fato não vá ser usado pela oposição contra o governo. Em meio à confusão causada por seu ministro licenciado, Temer enfrenta hoje a sua primeira prova de fogo – a votação da nova meta fiscal de R$ 170,5 bilhões no Congresso. A oposição promete não lhe dar trégua. Jucá e suas sinistras intenções foram a munição que os partidos oposicionistas tanto desejavam para tentar obstruir a aprovação da nova meta .

A não aprovação da medida, ou, mesmo, o adiamento da sessão, seria uma enorme derrota para o governo e para o país, ao colocar em dúvida a confiança de que Temer será capaz de governar. O episódio desta segunda-feira serve de alerta. Outras bombas podem cair no colo do presidente, por ter escolhido auxiliares investigados na Justiça – afinal, dois de seus ministros são investigados formalmente Lava Jato. É de se avaliar em que medida Temer vai poder contar com aliados que podem ir aos poucos lhe minando a credibilidade. Mas, por enquanto, a ação rápida no caso Jucá deu a Temer um voto de credibilidade.

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