A inflação é reconhecidamente mais prejudicial para as camadas pobres da população e para os que vivem de renda fixa – como é o caso dos assalariados –, cujos orçamentos familiares têm pouco espaço para redução de gastos. Desde meados dos anos 1950 até 1994, a inflação brasileira viveu oscilando entre períodos em que o índice de preços subia pouco e períodos em que os preços explodiam, levando à hiperinflação. Na prática, a inflação oscilava o tempo todo e vivia numa gangorra entre taxas baixas e taxas altas, predominando elevadas taxas de inflação na maioria dos anos, sendo essa uma das causas da pobreza e da má distribuição de renda.
Após vários planos econômicos fracassados, somente em 1994, após a implantação do Plano Real, a inflação começou a ser dominada e, de lá para cá, o Brasil conseguiu amenizar a gangorra dos preços, mas sem nunca extirpar completamente o problema, que, além de afligir a população pela redução do poder de compra dos salários, inibe o crescimento econômico e a melhoria social. Os países desenvolvidos e com crescimento consistente do Produto Interno Bruto (PIB) têm demonstrado que a inflação aceitável e que não prejudica a economia gira a taxas abaixo de 3% ao ano. No Brasil, a meta de inflação anual para 2018, definida em resolução do Conselho de Política Monetária (Copom), é de 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Isto é, a banda aceita uma inflação de 3% a 6% ao ano.
Uma inflação que pode chegar a 6% atua no sentido de inibir os investimentos produtivos
Para um país acostumado a taxas elevadas de inflação, pode parecer que não há gravidade em uma inflação de 6%. Mas há. Primeiro, a gangorra da taxa de inflação – ora alta, ora baixa, mesmo num intervalo como a banda atual de 3% a 6% – transmite sinais incertos ao mercado; os cálculos econômicos ligados à precificação de bens e serviços e a planos de retorno de investimento perdem em precisão e certeza. Segundo, o sistema de preços é o principal balizador dos orçamentos, das decisões de investimento e dos planos de alocação de capital e, por isso, uma inflação que pode chegar a 6% atua no sentido de inibir os investimentos produtivos, aumenta o grau de risco em função da imprecisão das contas e acaba diminuindo o ímpeto de crescimento econômico.
Outro aspecto importante para a vida das pessoas, das empresas e das contas do governo é que entre as causas da inflação está o excesso de demanda em relação à oferta. Ou seja, quando pessoas, empresas e governo procuram mais bens e serviços para comprar do que o volume de produção nacional, o excesso de demanda pressiona os preços para cima. Em geral, a demanda é maior que a oferta quando a economia vai bem, o desemprego é baixo e o PIB está em trajetória de crescimento. Ao contrário, quando há recessão, com queda de produção e aumento do desemprego, o consumo das famílias e os investimentos das empresas se reduzem, provocando insuficiência de demanda que, não raro, leva a mais redução na produção, mais desemprego e menos demanda, e o normal nessas condições seria queda da inflação.
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Porém, mesmo com o país ainda patinando, a inflação brasileira, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), teima em subir e, neste ano, pode chegar a 4,5% contra os 2,95% de 2017. A subida da inflação no momento em que os salários já estão deprimidos pelo alto desemprego tem o efeito de diminuir muito o poder de compra das pessoas, reduzir o padrão de vida de todos e aumentar a taxa de pobreza. É bem verdade que parte da instabilidade e do vaivém do IPCA decorre de fenômenos pontuais relevantes, como foi a greve dos caminhoneiros, que ou são esporádicos ou não produzem efeitos tão grandes quanto os que se alardeiam. Segundo declaração do presidente do Banco Central no fim de maio passado, a greve dos caminhoneiros teve impacto limitado e temporário sobre a inflação. Se é assim, a inflação brasileira é uma hidra teimosa que insiste em subir mesmo quando a economia está deprimida e com alto desemprego.
Além de trabalhar para conseguir que o país volte a ter crescimento do PIB, os próximos governantes devem procurar conter a tendência altista da inflação, como também buscar uma estabilidade que reduza a gangorra das taxas anuais do IPCA.