Passaram-se oito meses desde que Antonio Palocci (PT) foi derrubado da chefia da Casa Civil por denúncias de tráfico de influência e enriquecimento ilícito. De junho do ano passado até agora, o Brasil viu a queda de um total de sete ministros da presidente Dilma Rousseff (PT) por suspeitas de irregularidades na administração de recursos públicos, aparelhamento político de ministérios, pagamentos de propina e favorecimento de empresas ligadas a partidos. Entretanto, os acusados deixaram as pastas ilesos. A única "punição" que tiveram foi justamente a saída da chefia de tais ministérios.
Nem mesmo da vida pública estão afastados. Dos sete ministros que caíram, dois deles Pedro Novais (PMDB), que chefiou a pasta de Turismo, e Mário Negromonte (PP), que dirigiu o Ministério das Cidades reassumiram seus postos de deputado federal. Já Alfredo Nascimento (PR), ex-dirigente da pasta de Transportes, após a queda, em seis de julho de 2011, voltou ao cargo de senador.
De forma semelhante o pedetista Carlos Lupi resiste na vida pública e continua presidente nacional de seu partido. E o ex-ministro dos Esportes Orlando Silva (PCdoB), por sua vez, planeja o retorno nas eleições municipais deste ano, pretendendo se eleger vereador de São Paulo.
Tanto o caso de Lupi quanto o de Silva merecem reflexão mais aprofundada. Ao manter Lupi na presidência, o PDT pode ser considerado pela opinião pública como um partido que não se importa com as graves denúncias que o afastaram do ministério. Da mesma forma, o PCdoB, ao conferir legenda para Silva, pode ser conivente em relação às suspeitas de cometimento de práticas ilegais. Um pouco de zelo para com a imagem partidária faria bem.
Enquanto os ex-ministros persistem na vida pública sem grandes obstáculos a serem superados, as investigações prosseguem a passos lentos. Isso ocorre, na maioria das vezes, não porque há esforços deliberados para abafar as denúncias, mas por ser muito difícil conseguir apressar o trâmite investigatório, que depende de coleta de provas, de análise técnica de documentos e, por vezes, de requerimentos de quebra de sigilo fiscal ou bancário, o que só pode ser feito mediante ordem judicial.
Há casos, entretanto, que não requerem nem prática e tampouco habilidade investigatória. É o exemplo dado por Pedro Novais. O peemedebista foi afastado do cargo em 14 de setembro, depois de uma sucessão de escândalos que envolveram pagamento de motel com dinheiro público e nomeação de empregada doméstica e motorista como servidores da Câmara dos Deputados. Embora as denúncias sejam de apuração relativamente simples, as investigações do Ministério Público Federal ainda não foram finalizadas.
Enquanto não há a proposição de denúncias na Justiça, ou de arquivamento por falta de provas, as dúvidas sobre o comportamento dos ex-ministros permanecem. Apesar de todos os episódios estarem sendo investigados, eles não podem cair no esquecimento. Por se tratar de suspeitas contra políticos que exerceram os mais altos postos da cúpula do Poder Executivo, merecem ser tratados com mais atenção e agilidade.