Poderia ser um passo importante para a formação de uma frente ampla contra o crime. Mas a implantação do geoprocessamento, o chamado Mapa do Crime, e do boletim unificado das polícias Civil e Militar no Paraná, anunciada há três anos, tem se revelado uma espécie de quebra-cabeça incompleto por causa da falta ou da indisponibilidade das peças.
O programa ainda não funciona. Ou funciona no sentido contrário, levando delegados a reclamar da falta de integração e do descompasso das atividades em curso. A questão da unificação das polícias, mesmo que de modo parcial, é antiga. Pela formação e funções específicas, seria no mínimo complicado levar à frente um projeto nesse sentido. O que se pretende é, respeitando-se as características e a própria história de cada uma das corporações, um trabalho conjunto nos pontos-chaves de planejamento, logística e racionalização das operações. Algo como a atuação integrada em que a intervenção da PM e da Polícia Civil possa se completar, fechando os elos de uma só corrente de combate à criminalidade, reforçando, por via de conseqüência, a confiança nos dias atuais cada vez mais depauperada da população nos organismos de segurança do estado.
Para tanto, mais do que proposta no papel, é necessário vontade política. Sem determinação, convicção de propósitos, recursos e carta branca, a introdução de uma nova modalidade de policiamento, ou melhor, a formação de uma malha fina de proteção à vida e à propriedade não passa de uma miragem. Uma figura ou elemento de retórica tão propícios para os discursos eleitorais em períodos de campanha. Como se disse no início, tratava-se de uma iniciativa com o propósito de ir bem mais longe. Ficamos, infelizmente, marcando passo. Não basta, como se sabe sobejamente, reforçar o efetivo das duas organizações policiais, aumentar o número de veículos de suas frotas, sistemas de comunicação e rádio. É preciso um traballho de globalização.
O Mapa do Crime deveria puxar a atuação da Secretaria de Segurança Pública. O sistema permitiria o encadeamento dos boletins de ocorrência feitos em todo o estado, de modo que um registro feito em Curitiba pudesse ser aberto de imediato em unidades policiais de qualquer ponto do Paraná, e vice-versa. Hoje, o trânsito de dados demora 15 dias até estar disponível a todas as autoridades.
Quanto à importância desse tipo de trabalho, os responsáveis pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da Universidade de São Paulo (USP), lembram que os registros da Justiça, da polícia ou da saúde, "embora não lancem luz sobre a natureza da violência, não informem sobre o grupo responsável pelo homicídio nem dêem subsídio para que se conheça a relação entre os envolvidos", são fundamentais para alimentar estudos, pesquisas e suprir as autoridades na formulação ou aprimoramento de políticas para combater ao crime. É lamentável, portanto, o que ocorre hoje no Paraná.