O “socialismo do século 21” proposto por Hugo Chávez e Nicolás Maduro na Venezuela teve os mesmos resultados do socialismo do século 20: fazer os países onde foi implantado retrocederem ao século 19 – na melhor das hipóteses. Uma das consequências mais trágicas destes regimes assassinos é a fome, que às vezes é resultado de ações deliberadas, como foi o caso do Holodomor, em que Stálin buscou aniquilar a força de vontade dos ucranianos, e outras vezes é o resultado natural das políticas equivocadas socialistas, à medida que destroem a propriedade privada e qualquer incentivo para que a população continue a produzir.
Há quase um ano, o jornal The New York Times publicava extensa reportagem, após cinco meses de trabalho de seus profissionais na Venezuela, mostrando que bebês e crianças estavam morrendo de desnutrição, enquanto o governo escondia estatísticas e médicos e hospitais eram forçados a manipular os registros para esconder as verdadeiras causas das mortes. Surgiram gangues armadas especializadas em caçar comida no lixo; adultos e principalmente idosos também sofrem com a perda de peso; malária, Aids, sarampo, tuberculose e outras doenças estão fora de controle. Quem tem condições financeiras e físicas faz o possível para deixar a Venezuela, dirigindo-se principalmente ao Brasil e à Colômbia – o fluxo de refugiados é comparável ao daquele observado em países do Oriente Médio engolidos por guerras civis.
O caos venezuelano continuará enquanto o país seguir refém do socialismo
Mesmo assim, o ditador Nicolás Maduro e seus diplomatas insistiam em negar o óbvio. Não existia nenhuma crise humanitária no país; as denúncias de fome e miséria não passavam de um complô das potências ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos, para derrubar o governo bolivariano. Por esse raciocínio, se a Venezuela admitisse a existência de uma situação de crise, estaria aberta a porta para uma intervenção internacional que removesse Maduro do poder. Em uma atitude que beira a psicopatia, o ditador prefere ver seu povo morrer de fome que correr o menor risco de ser deposto.
Esse era o discurso que vigorava até o mês passado. Agora, silenciosamente, a ditadura bolivariana começa a admitir que precisa de ajuda externa. A Organização das Nações Unidas enviará US$ 9,2 milhões ao país na forma de auxílio humanitário: US$ 2,6 milhões irão para a Unicef, que ajudará crianças, gestantes e mães que estão amamentando; o atendimento de mulheres e meninas nas regiões de fronteira terá US$ 1,7 milhão; a Organização Mundial de Saúde (OMS) contará com US$ 3,6 milhões para recuperar hospitais, comprar remédios e pagar profissionais de saúde. Um bom sinal é o fato de nenhum centavo desse dinheiro ser colocado nas mãos do governo assassino e corrupto de Caracas; todo o montante será administrado por agências internacionais.
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Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, funcionários da ONU esperam que esta primeira ajuda possa abrir as portas do país a uma ação humanitária mais robusta, mas para isso será preciso contar com a boa vontade do ditador. Só por isso é difícil prever quando o drama venezuelano terminará, pois a qualquer momento Maduro pode reverter a frágil abertura à ajuda externa com as alegações mais absurdas. E, mesmo que as agências internacionais possam fazer seu trabalho em paz, o caos venezuelano seguirá enquanto o país continuar refém do socialismo. A ajuda internacional só tem como tratar os sintomas, mas não a causa fundamental do sofrimento do povo.
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