Mike Johnson, presidente da Câmara dos Representantes norte-americana, já descartou pacote de apoio à Ucrânia costurado por republicanos e democratas no Senado.| Foto: EFE/EPA/JIM LO SCALZO
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Na última quinta-feira, dia 1.º, a União Europeia conseguiu romper o impasse provocado pela resistência da Hungria de Viktor Orbán e anunciou a aprovação de um pacote de 50 bilhões de euros para ajudar o esforço de guerra da Ucrânia – o valor será entregue ao longo dos próximos quatro anos. Embora algumas concessões tenham sido feitas ao premiê húngaro, como a adoção de um mecanismo periódico de revisão, o acordo também garante que alterações exigirão unanimidade, impedindo que um único país bloqueie ou retarde o envio dos recursos que, hoje, são vitais para que a Ucrânia siga resistindo à agressão imperialista de Vladimir Putin.

O dinheiro europeu é importante, mas, para muitos analistas do conflito na Ucrânia, será incapaz de propiciar uma virada decisiva no conflito. A ajuda norte-americana continua sendo essencial; no entanto, e cumprindo à risca a estratégia de Putin de vencer o Ocidente pelo cansaço, o apoio a Kyiv, que era unânime quando o ataque russo foi lançado, vai se fragmentando nos Estados Unidos assim como vem ocorrendo na Europa. No caso, os republicanos, especialmente na Câmara de Representantes, resolveram atrelar qualquer nova ajuda à Ucrânia a um pacote de combate à imigração ilegal na fronteira norte-americana com o México. Mas, como Donald Trump pretende usar o tema da imigração na campanha eleitoral que se aproxima, uma solução imediata para a questão já não é interessante. Tanto que, nesta segunda-feira, negociadores de ambos os partidos no Senado costuraram um pacote de US$ 118 bilhões para a Ucrânia, Israel e a fronteira – os ucranianos ficariam com US$ 60 bilhões –, mas o presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, já antecipou que as chances de o pacote ser aprovado pelos deputados são mínimas.

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Regimes “valentões” mundo afora, da China à Venezuela, acompanham com ansiedade o desenrolar do drama ucraniano; se Putin conseguir o que deseja, estará validado o modus operandi de agressões unilaterais

O risco desta posição é enorme para todo o mundo livre. Ela representa uma mudança muito perigosa em uma postura que vinha marcando a atuação dos republicanos na política externa e que, como lembrou John Hardie em texto publicado na National Review e traduzido por esta Gazeta do Povo, teve seu ápice com Ronald Reagan: jamais abandonar os aliados democráticos que estejam sendo ameaçados por tiranias de esquerda. A esse respeito, não se pode esquecer que, a despeito de toda a casca de conservadorismo moral de Putin (que, como já mostramos, não passa exatamente disso, uma casca), ele é o herdeiro da máquina e dos métodos soviéticos, que cultiva com gosto a ponto de exaltar a memória do totalitarismo stalinista.

Se a Ucrânia sucumbir, com qualquer desfecho que não seja o respeito à integridade territorial do país – por exemplo, uma troca de “terras por paz” ou a derrubada de Volodymyr Zelensky e sua substituição por um fantoche russo –, o mundo entrará em uma era de tensão como não se vê provavelmente desde a crise dos mísseis cubanos de 60 anos atrás. Regimes “valentões” mundo afora, da China à Venezuela, acompanham com ansiedade o desenrolar do drama ucraniano; se Putin conseguir o que deseja, estará validado o modus operandi de agressões unilaterais. “Hoje é a Ucrânia. Amanhã pode ser Taiwan”, alertou no fim de janeiro o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg. Pelo contrário, se o Ocidente não esmorecer e ajudar os ucranianos a repelir com sucesso a invasão russa, autocratas de todos os continentes pensarão muitas vezes antes de se lançarem em aventuras expansionistas.

Quanto mais a guerra se estende, maior é a tentação de considerar a ajuda à Ucrânia um desperdício. No entanto, não se trata de lutar a “guerra dos outros”. É a sobrevivência do Ocidente e do seu modelo democrático que está em jogo, contra as ambições de autocratas que pretendem se impor única e exclusivamente pela força. E eles já demonstraram que sabem se ajudar, pois seguem fazendo comércio com a Rússia e servindo como intermediários em transações comerciais que contornam as sanções econômicas impostas pelas democracias ocidentais ao regime de Putin. O Ocidente precisa no mínimo igualar – se possível, superar – este grau de coesão, e voltar a se unir com firmeza em torno da defesa dos ucranianos.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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