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O presidente da Argentina, Javier Milei, durante visita à República Tcheca em junho de 2024.
O presidente da Argentina, Javier Milei, durante visita à República Tcheca em junho.| Foto: Martin Divisek/EFE/EPA

A Argentina está oficialmente em recessão. Segundo dados do Indec, o instituto oficial de estatísticas do país, o PIB argentino recuou 2,6% no primeiro trimestre de 2024, período que corresponde ao início do mandato do presidente libertário Javier Milei, em comparação com o trimestre anterior. O conceito técnico de recessão exige quedas do PIB em dois trimestres consecutivos, e foi o que ocorreu, já que nos últimos três meses de 2023, no fim do governo do esquerdista Alberto Fernández, a economia também havia encolhido 1,9%. O fraco desempenho, se por um lado tem certa herança do descalabro peronista, por outro também é consequência do duro ajuste que Milei está tentando levar adiante para resgatar a Argentina do caos.

O libertário assumiu ciente de que a última experiência não esquerdista na Casa Rosada, a de Maurício Macri, havia terminado em fracasso porque o liberal havia optado pelo caminho de reformas graduais em um paciente que precisava urgentemente de medidas drásticas de ressuscitação. Na posse, Milei foi direto ao ponto: no hay plata. E começou a passar sua “motosserra” no inchadíssimo setor público argentino e na máquina de imprimir pesos que gerava inflações mensais de dois dígitos. Nos primeiros cinco meses, 20 mil servidores foram demitidos e várias obras públicas, identificadas como foco de corrupção, foram suspensas.

O principal desafio de Milei, agora, é garantir que resultados como a queda da inflação e os superávits primários se transformem o quanto antes em uma vida melhor para os argentinos

Apesar da recessão, o país começou a colher alguns bons resultados: cinco meses seguidos de superávits primários (os dados mais recentes vão até maio deste ano) e de desaceleração da inflação: a de maio ficou em 4,2%, menos da metade dos 8,8% de abril. São números que assustariam qualquer brasileiro, e com razão, mas que para os padrões argentinos já são uma enorme conquista. O peso, depois de ser uma das moedas que mais perderam valor em 2023, está se valorizando – para alguns analistas, até demais, o que pode prejudicar setores como o de turismo. As reservas cambiais do Banco Central da Argentina estão se recompondo lentamente, enquanto a taxa de juros e o risco-país estão caindo rapidamente.

O principal desafio do libertário, agora, é garantir que os bons resultados se transformem o quanto antes em uma vida melhor para os argentinos. Os pobres são os que mais se beneficiam de uma economia em ordem, mas até que isso aconteça o drama social argentino pode se aprofundar – hoje, quatro em cada dez argentinos estão abaixo da linha da pobreza. Em maio, o Fundo Monetário Internacional publicou suas estimativas para a economia do país: queda de 3,5% no PIB este ano, mas crescimento de 5% em 2025. A aprovação, pelo Congresso argentino, da Lei de Bases deve dar a Milei mais fôlego para intensificar suas reformas – o texto é mais modesto que o desejado pelo presidente, mas ainda assim lhe concederá uma série de novas prerrogativas: Milei poderá adotar uma série de medidas sem precisar do aval do Legislativo, onde ele não tem maioria garantida, precisando costurar apoios caso a caso.

Em um roteiro que se repete mundo afora – e que foi visto especialmente durante a crise da zona do euro, ocorrida cerca de uma década atrás –, as políticas perdulárias da esquerda enfraquecem a economia; a população insatisfeita elege governantes de direita ou centro-direita para conduzir um ajuste; mas, como há um custo inevitável para se consertar as contas públicas, o eleitor se cansa e devolve o poder aos populistas, esquecendo-se de que foram eles os responsáveis por levar seus países ao buraco. Mesmo estando na fase do ajuste doloroso, Milei ainda conta com o apoio da maioria da população, o que é positivo. Seu desafio é manter este capital político, seguindo adiante com as reformas sem aprofundar ainda mais a crise social enquanto a Argentina não volta a crescer.

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